Miguel de Unamuno (1864-1936)

Miguel de Unamuno (1864-1936)

“Pois bem – perguntar-me-á alguém -, qual é a tua religião?” Eu respondo: “A minha religião consiste em procurar a verdade na vida e a vida na verdade, mesmo sabendo que não a encontrarei enquanto viver. A minha religião é lutar sem trégua e incansavelmente contra o mistério. A minha religião é lutar com Deus, do despontar da aurora ao cair da noite, como dizem que com ele lutou Jacó. Não quero entrar me acordos com o Incognoscível, nem com o

daqui não se passa. Rejeito o eterno ignorabimus”. Em todo caso, quero subir para o inacessível.

“Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”, nos diz o Cristo; esse ideal de perfeição, sem dúvida, é inatingível. Mas ele nos apresentou o inatingível como meta e como termo fixo de nossos esforços. Isso se consegue com a Graça, como dizem os teólogos. Mas eu quero combater a minha batalha sem preocupar-me com a vitória. Não há, por acaso, exércitos, e também povos, que correm para uma derrota certa? E  não elogiamos aqueles que se deixaram matar combatendo, em vez de se renderem? Pois bem, essa é a minha religião.

                                                                         Miguel de Unamuno

[Unamuno, Miguel. Mi religión, 1907, in Obras Completas, Madri, Afrodisio Aguado, 1959-1961, t. XVI, p. 118-120. Tradução dos originais espanhóis (para o italiano) de Armando Savignano. Citado por: Savignano, Armando, “Um Cristo ‘espanhol’ entre dom-quixotismo trágico e piedade popular”. Em: Zucal, Silvano (org.). Cristo na filosofia contemporânea: volume II: o século XX. Tradução de Benôni Lemos, Patrizia G. E. Collina Bastianetto. – São Paulo: Paulus, 2006, p. 71.- (Coleção filosofia).]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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