“Abra na página quinhentos e trinta e oito e leia o capítulo XI”. O dia não havia ainda amanhecido quando, absorto em minha meditação , com as mãos pousadas sobre o volume de nada menos que 1996 páginas contendo a mais refinada espiritualidade, fui surpreendido pela inconfundível voz. Não esperava que ele me aparecesse antes do dia primeiro, quando, conforme sugerira, eu deveria dar continuidade ao desenho da Mandala da Vida. Mas apareceu, pegando-me de surpresa mais uma vez. “Leia o capítulo XI”, prosseguiu, “e a seguir volte ao Prólogo, lendo tudo desde o início até o último capítulo”.

Experimentei um estado de contentamento de tal magnitude que não conseguiria expressar em palavras, por mais que eu tentasse. Fiquei imensamente feliz, muito feliz mesmo. Que maravilha! Tudo às vezes se revela tão simples. Por que, em nossa estupidez, insistimos tantas vezes em complicar o que não precisa ser complicado? Está tudo ali, bem à frente. É claro que o encontro pressupõe o esforço da busca, mas essa pode ser uma busca serena, tranquila, paciente. Cada vez mais me convenço de que não há como ser negada uma resposta quando a pergunta é veemente e sincera. Essa é a palavra, sinceridade. Se a busca é sincera, o encontro é inevitável.

Vou lhes revelar uma coisa: o processo de busca da bem-aventurança, no sentido atribuído por Joseph Campbell à expressão, é o que de mais belo pode suceder na vida de uma pessoa. Ah!, quem me dera eu tivesse o talento necessário para escrever sobre as maravilhas experimentadas por quem segue integralmente essa trilha! Nós, seres humanos, temos um potencial fantástico, nossa capacidade de experimentar, de criar, é extraordinária. A nossa psique é um manancial de criatividade magnífico. Perdoem-me os leitores a prodigalidade de adjetivos disseminados neste parágrafo, mas é que trato de um assunto pelo qual me sinto totalmente enfeitiçado. Por enquanto preciso desses adjetivos, então, por favor, sejam condescendentes comigo enquanto redijo este relato da visita que Dom Cristiano me fez esta manhã.

Cada vez que Dom Cristiano me aparece experimento um sobressalto. Sei que ele surgiu em minha vida para me ajudar a sair da letargia em que me encontrava. Ele tem feito as vezes de psicopompo ao longo dessa travessia, conduzindo-me pelos meandros da busca do meu mito pessoal. Tem sido uma aventura e tanto. A certeza de seu auxílio providencial – pois nunca precisei chamá-lo, uma vez que ele aparece sempre que se faz necessário -, me tem feito prosseguir em minha jornada iniciática com mais segurança, embora o medo e o temor do desconhecido vez por outra se insinuem.

Esta manhã ele veio para me sugerir uma leitura, e que leitura! Aquele capítulo era tudo o que eu precisava para esclarecer algumas dúvidas e contradições com as quais eu vinha me debatendo desde ontem. Um pouco mais tarde, depois da leitura do capítulo indicado, objetivando seguir sua sugestão de que eu, então, retomasse a leitura do livro desde o prólogo, resolvi abri-lo com este objetivo. Pois, vejam, abri-o exatamente na página 501, onde se inicia o prólogo. Às vezes fatos tão simples se revestem de tanto sentido na vida da gente, que até parece que fomos tocados pelo sagrado, pelo sobrenatural. É assim que tenho sentido as comunicações de Dom Cristiano Yepes.    

Mas, para tanto, necessário se faz advertir que é precisoo estarmos abertos às possibilidades, deixar-nos surpreender, deixar-nos tocar pelo inefável. Imaginamos ou ansiamos pelo extraordinário em nossa vida, sem perceber que o extraordinário está bem à nossa frente e até já o estamos vivenciando, sem que disso nos tenhamos apercebido.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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