O maior título que se reconhece a Maria é precisamente sua maternidade divina, esse é seu título de glória, que exprime também sua vocação. Maria foi suscitada pela graça para ser mãe. No entanto, ela não poderia ser especificamente a “Mãe de Deus” se não tivesse sido preservada de todo pecado desde sua concepção. À glória de Maria corresponde um imenso mistério inicial, uma obra extraordinária da misericórdia divina, sua concepção imaculada, pela qual tudo foi possível… porque, para Deus, nada é impossível! Falar da Imaculada Conceição de Maria é falar de sua pureza original. Maria é, por graça, pura, inteiramente pura, isto é, preservada de todo pecado, de todo mal, e até mesmo da corrupção da carne. Grande é esse mistério…

Jean-Claude Michel

[Michel, Jean-Claude. A Imaculada Conceição, promessa de pureza. 2ª. ed. Tradução de José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2005, p. 7. (Série Virgem Maria; 5)]

Conforme o Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, “Para preparar a definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria, Pio IX constituiu, no dia 1º de junho de 1848, uma comissão de teólogos. Em 2 de fevereiro de 1849 mandou ao episcopado católico mundial a Encíclica “Ubi primum”, para a opinião dos bispos a respeito da definibilidade. Dos 603 bispos interrogados, 546 eram a favor da definição. Depois da publicação desses votos, Pio IX fez elaborar alguns esquemas da bula. O próprio Papa participou de maneira decisiva na sua redação final” (p. 614).

No dia 8 de dezembro de 1854, proclamava o Papa a Bula Ineffabilis Deus: “… Para a honra da santa e indivisa Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara, para exaltação da fé católica e incremento da religião cristã, com a autoridade do nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Pedro e Paulo e nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, foi preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis” (Bula “Ineffabilis Deus”. Em: Denzinger, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Traduzido por José Marino e Johan Konings. – São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2007, p. 614ss.).

De acordo com a Bula, portanto, Maria fora preservada, pela graça de Deus, da mancha do pecado original. A palavra imaculada quer dizer isso, sem mácula, ou seja, sem a mancha do pecado. Prenunciando o que aconteceria quase um século mais tarde, ao ser proclamado o dogma da Assunção da Virgem Maria, este também não foi isento de controvérsias. Como se pode ler acima, nem mesmo a totalidade dos bispos católicos foi unânime quanto à sua proclamação. Na verdade, pode-se dizer que estes dois grandes dogmas sobre a Virgem Maria atravessam o tempo motivando sempre novas discussões e debates. Mas, em se tratando de dogmas, não se poderia esperar que as coisas acontecessem de outra forma.

Objetivando esclarecer algumas questões sobre o controvertido assunto, Jean-Claude Michel, o mesmo autor que já escrevera um livro sobre o outro dogma mariano, comentado neste blog sábado passado, escreveu o livro A Imaculada Conceição, promessa de pureza. A exemplo do outro, é este, também, um livro de leitura fácil e agradável, que pode servir como introdução ao tema.

Ao discorrer sobre Os frutos da Imaculada Conceição de Maria, escreve o autor: “Maria jamais conheceu fraquezas, hesitações ou desvios da vontade. A vontade é uma das faculdades da alma tal como a inteligência, a afetividade, a memória e a liberdade. Ela se define como a faculdade de inclinar para um bem que pede espírito dotado de conhecimento. Ela se distingue em vontade profunda ou primeira, que inclina sempre para o bem; e em vontade segunda, que se determina para um bem preciso ou particular. Sabendo que o mal é uma imperfeição do bem, compreende-se que o homem possa praticar o mal sem o ter realmente desejado; como ele ignora o bem supremo porque está cego pelo pecado, então sua vontade aparece como pervertida. Em um raciocínio lógico podem-se tirar as conclusões seguintes a respeito da Virgem: preservada do pecado, ela permanece na luz divina, e mesmo que não conheça todas as coisas, sua alma permanece em comunhão com a vontade do Pai que é unicamente boa. Ela não pode assim extraviar-se, nem se corromper, nem se submeter. Maria, toda pura, sempre quis o bem soberano e somente ele” (p. 67).  

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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