O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma que “Maria avançou em peregrinação de fé” (Lumen Gentium, VIII, 58). Embora fosse toda de Deus na santidade de seu ser e na abertura de sua alma, mesmo depois de ter sido atingida pela graça de intimidade com o Filho e com o Espírito Santo, ela crescia na compreensão da verdade da fé. A compreensão progressiva incluía tanto o mistério e a missão de seu Filho quanto sua própria missão de mãe e de colaboradora. Maria ignorava as consequências de seu sim generoso. Apenas conhecia o essencial: seu filho era Filho de Deus e Salvador. Em consonância, as Escrituras dão a entender o conhecimento de Maria, de claridade em claridade, na condição de peregrina na fé.

Dom Edson de Castro Homem

[Homem, Dom Edson de Castro. Maria da nossa fé. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 33. – (Coleção arte e mensagem)]

O livro hoje comentado faz parte da bela Coleção Arte e Mensagem, publicada pelas Edições Paulinas. Um outro volume da mesma coleção já tinha sido abordado por mim aqui em outra ocasião. Este que apresento hoje, intitulado Maria da nossa fé, foi escrito por Dom Edson de Castro Homem. O autor é bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 2005, tendo exercido o mister de professor de Teologia e Filosofia na PUC-Rio, na PUC-Petrópolis, no Instituto de Filosofia e Teologia de São Bento, no Instituto de Filosofia João Paulo II e no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro.Dom Edson dividiu seu livro em sete capítulos, cada um dos quais, por sua vez, subdividido em três partes, seguidas de uma

conclusão, um questionário composto por quatro perguntas que resumem o assunto abordado, terminando com uma oração. São as seguintes as partes de que se compõe a publicação: I. Maria na promessa da salvação. II. Maria na relação com Deus. III. Maria no itinerário da fé. IV. Maria na tradição viva da Igreja. V. Nosso culto a Maria. VI. A veneração das imagens de Jesus, de Maria e dos santos. VII. Maria, estrela da evangelização.   

Dom Edson de Castro

O autor nos conduz, ao longo da leitura, num itinerário em que somos levados a refletir sobre a relação da Virgem Maria com seu filho, Jesus Cristo, com Deus e com o Divino Espírito Santo, o Esposo, tendo como pano de fundo seu papel nunca esquecido de mediadora dos cristãos. Além dos dogmas marianos, também destacados no texto,no autor dedica especial atenção a dois temas muitos caros à Igreja latino-americana: as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe e a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil.

Um dos textos que eu destacaria como dos mais belos, que pode ser lido também como um encorajamento a cada cristão para que persevere na fé,  é aquele em que o autor trata da fé de Maria ancorada exclusivamente na sua inabalável confiança na realização da Promessa divina. Escreve Dom Edson:

“Como Maria na alegria da gestação do Menino Jesus podia conviver com o silêncio, pois nada dissera a José? Que perplexidade e indagações invadiam sua alma diante dessa circunstância? Teria tido conhecimento do sofrimento de José que, ´sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo?` (Mateus 1,19). Questionava seu futuro sem José? Não temos respostas para tais questões. Porém, elas indicam que a fé mariana não foi luz imediata para todos os acontecimentos. Ela precisou esperar a hora de Deus para si e para José. Também para ela, a experiência de peregrinar na fé significou aguardar o futuro que a Deus pertence. Contudo, viveu o momento presente na fidelidade ao Deus da Promessa” (p. 34).

Para concluir, deixo aos leitores a oração com que Dom Edson encerra a primeira parte de seu livro:  

ORAÇÃO: Ó Maria, Mãe de Jesus, o Messias prometido! Vós sois a Filha de Sião! Vós sois a honra e a glória de Israel! Vós sois a alegria de todos os povos evangelizados, pois em vós se cumpriram as antigas promessas! Nós contemplamos em vosso nascimento a aurora de nossa salvação. Quando nascestes, nossas esperanças foram realizadas e nossas alegrias, intensificadas: o Salvador estava próximo! Deus conosco! Antes de nascerdes, fostes abençoada e santificada, ao serdes concebida sem o pecado original, em previsão dos méritos do vosso Filho, para vos tornardes templo da divindade. Ele quis, assim, redimir-vos de modo admirável. Ó Mãe Imaculada, ensinai-nos a acolher e a conservar em nós a vida da graça que vosso Filho nos trouxe com seu sacrifício e nos concedeu graciosamente no batismo. Intercedei junto a Jesus para que sejamos fiéis às promessas batismais e à nossa vocação cristã, servindo aos irmãos com amor solícito e solidário. Fazei que vençamos o mal com o bem e com o perdão,  esmagando a antiga serpente, símbolo do pecado e do Inimigo. Amparai e defendei nossa fé, quando ameaçada. Purificai nossos sentimentos e desejos para que não nos afastem da verdade e da paz. Iluminai a nossa estrada para caminharmos com firmeza e retidão. Amém. (p. 21).

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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