Então a mãe dos filhos de Zebedeu, juntamente com seus filhos, dirigiu-se a ele, prostrando-se, para fazer-lhe um pedido. Ele perguntou: “Que queres?” Ao que ela respondeu: “Dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino”. Jesus, respondendo, disse: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que hei de beber?” Eles responderam: “Podemos”. Então lhes disse: “Sim, bebereis de meu cálice. Todavia, sentar à minha direita e à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo; mas é para aqueles aos quais meu Pai o destinou”.

Mateus 20,20-23

Ontem à noite senti uma vontade imensa de ouvir o Concerto de Aranjuez. Fazia tempos que não escutava essa bela composição do espanhol Joaquim Rodrigo. Por que de repente esta vontade de escutá-la? Como estivesse com sono, me deitei cedo. Esta manhã,  ao ligar o computador, lembrei novamente da vontade que sentira ontem, e eis que acometeu-me um enorme desejo de escutar Aranjuez. Os acordes melodiosos da guitarra flamenca começaram a reverberar em minha mente. Era quase como se eu escutasse a música.

Resolvi não opor resistência e fazer o que pedia meu coração. Acessei o youtube e procurei o adágio do Concerto de Ranjuez com Narciso Yepes. Tão logo comecei a ouvir os primeiros acordes, num ato não planejado ergui-me da cadeira e peguei no genuflexório a minha manta inca. Cobri-me com a manta, repetindo o ritual que sempre cumpro cada vez que vou rezar ou meditar. Tão logo me sentei novamente diante do computador, o móbile dos anjos, dependurado na porta da biblioteca, começou a tilintar suavemente, como se em sintonia com a música que era executada por Narciso Yepes.

Ergui o olhar e lá estava ele, com a palma da mão direita estendida para cima e voltada para mim, como que num gesto de bênção. Dom Cristiano aproximou-se e, uma vez que o volume da música estava baixo, sua voz se fez ouvir com a suavidade de sempre, funcionando o adágio como fundo. “Bom dia, Vasco”, saudou-me. Respondi emocionado com um “Bom dia, Dom Cristiano”. Prosseguindo, falou: “Cruzaste, enfim, o umbral do Templo. Agora começa a parte mais emocionante da tua iniciação. Deambularás em busca do Graal. Nos próximos dias, mais que nunca, deverás permanecer sempre alerta, atento aos sinais que o Grande Mestre te enviará. Recordas-te que esta manhã  acordaste escutando um hino litúrgico? Foi o primeiro sinal. Quando sonhavas com o hino, era eu que o soprava, proporcionando-te uma audição interior. Não era, portanto, um sonho apenas; era um sinal. Esteja atento, pois pelo menos mais um sinal ainda receberás hoje”.

Eu escutava em silêncio Dom Cristiano. Quando ele me aparece, raramente digo alguma coisa. Geralmente me limito a escutar suas instruções e, depois, segui-las. À guisa de conclusão, falou: “Agora, devo ir. Quero te sugerir que nos próximos sete dias escutes diariamente o Concerto de Aranjuez. Isso fortalecerá o vínculo entre nós, e estarei te assistindo de onde eu estiver. Também quero que leias e medites sobre um episódio bíblico, que se encontra em Mateus 20, 20-23. Agora devo ir. Fica com Deus, Vasco”.

Quando Dom Cristiano se foi, peguei minha Bíblia de Jerusalém e li a passagem sugerida. Depois, repeti o adagio e, enquanto o escutava, redigi este texto para o Sincronicidade.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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