G. K. Chesterton
[Chesterton, G. K. São Tomás de Aquino: as complexidades da razão. In: Chesterton, G. K. São Tomás de Aquino e São Francisco de Assis. Tradução Adail Ubirajara Sobral / Maria Stela Gonçalves. – Rio de Janeiro: Ediouro, 2009, p. 208.]
Adquiri recentemente um livro editado no Brasil pela Ediouro que inclui duas biografias escritas por Gilbert Keith Chesterton: uma, de São Francisco de Assis, e outra de São Tomás de Aquino. Tenho me dedicado à leitura desta última. Um trecho, em especial, tem sido motivo para muita reflexão. Citei-o em epígrafe a este texto. Nele, o autor fala da discussão levada a efeito pelo Doutor Angélico a propósito do binômio razão e revelação. Conforme Chesterton, a conclusão do Santo “é que os homens têm de receber as verdades morais mais elevadas de maneira miraculosa, pois do contrário a maioria não as receberia”.
Nunca li Tomás de Aquino, embora tenha em minha biblioteca os volumes da Suma Teológica. Era uma leitura que eu vinha adiando. O encontro com a biografia de Chesterton, porém, tem sido um incentivo especial para que me disponha a iniciar logo o projeto. Interessa-me particularmente essa interação entre a fé consciente e racionalmente admitida e aceita, e a fé revelada. É uma questão em aberto. Ainda não está claro para mim até que ponto a fé pode ser uma escolha apenas racional, e, uma vez feita a opção por essa via de acesso, até que ponto tal fé pode se mostrar eficaz.
Inclino-me a pensar, no estágio em que me encontro, que a fé verdadeiramente autêntica e eficaz é aquela que se impõe ao indivíduo através da revelação. Ao afirmá-lo, porém, o faço com certa precaução, pois também não tenho quaisquer garantias quanto à existência ou não de verdades reveladas. Permaneço, ainda, no limbo da dúvida. Creio ainda muito racionalmente, muito mais por tentativa que por convicção.
É por isso que eu não poderia concluir este breve texto de outro modo a não ser me valendo das últimas linhas do excerto da biografia escrita por Chesterton, citada em epígrafe. Diz o autor:
E, quando chegamos lá, descobrimos que é algo tão simples quanto o próprio São Francisco teria desejado que fosse: a mensagem vinda do céu, a história contada a partir do céu, o conto de fadas que na realidade é verdadeiro.
De fato, não me é raro pensar o monumental arcabouço da fé cristã como um grande e bem elaborado mito, no qual estão imbricados alguns (poucos?) fatos comprovadamente históricos, ou seja, em última análise, talvez um magnífico conto de fadas. A questão é: será que Chesterton tem razão quando afirma que este conto de fadas “na realidade é verdadeiro?”