No seio da filha de Sião, lugar do templo e da casa de David, realiza-se em plenitude a presença de Deus com o seu povo; no seio da nova filha de Sião o Senhor estabelece o seu templo perfeito para entrar em comunhão com a humanidade. Esta presença é evocada também mediante um verbo que é aplicado a Maria, é o famoso kecharitoménê, habitualmente traduzido por “cheia de graça”, mas de valor mais complexo (entre outras coisas, o termo remete para o chaire, o “ave, alegra-te” do anjo, remete para charis, “graça”, e para chará, “alegria”, do léxico grego neotestamentário). Rigorosamente falando, trata-se de um particípio passivo que tem Deus como objeto subentendido: tu foste cumulada de graça por Deus graças à presença em ti do seu Filho; tu foste cumulada de graça para poderes acolher o Filho de Deus no teu seio. Surge, assim, em Maria a iniciativa divina; brilha a graça; manifesta-se o amor de Deus.

[Ravasi, Gianfranco. Os rostos de Maria na Bíblia: trinta e um “ícones” bíblicos. Tradução de Maria Pereira – TRADUVÁRIUS, Lisboa: Paulus Editora, 2008, p. 157.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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