Também a suavidade da compaixão brotara para o servo do Senhor com tanta profusão e plenitude da fonte da misericórdia que ele parecia ter vísceras maternas para aliviar a miséria das pessoas miseráveis, visto que tinha também uma clemência congênita que a compaixão de Cristo, infundida copiosamente sobre ele, duplicava . E assim seu espírito se liquefazia para com os enfermos e pobres, e aos que não podia oferecer a mão, oferecia o afeto: pelo fato de que referia a Cristo, com a doçura de piedosa compaixão, tudo que via de penúria, tudo que via de necessidade em alguém. E ao ver em todos os pobres a imagem de Cristo, dava generosamente aos que vinham ao seu encontro não só as coisas necessárias à vida – que por acaso também lhe haviam sido dadas -, mas também julgava que deviam ser-lhes restituídas, como se fossem próprias deles. Não poupava coisa alguma, nem capas nem túnicas nem livros nem mesmo paramentos do altar sem dar – enquanto podia – tudo isto aos necessitados, desejando, para cumprir o ofício da perfeita compaixão, desgartar-se até a si próprio (cf. 2Cor 12,15).

[São Boaventura. Legenda Menor de São Francisco. Fontes Franciscanas e Clarianas. Apresentação Sergio M. Dal Moro; tradução Celso Márcio Teixeira… [et. al.]. 2ª. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008,p. 701.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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