A beatitude consiste na posse e no gozo de todo bem e, em boa medida, também no comunicar aos outros o mesmo bem. Por isso São Paulo afirma: “É melhor dar que receber”. Assim, o céu dá à terra, não vice-versa; o Sol aos planetas; o pai aos filhos; o rei, as dignidades terrenas aos súditos e aos ministros; o sumo pontífice aos eclesiásticos; e Deus a todas as criaturas. Maior louvor como ato perfeito merece o dar que o receber: a árvore só dá frutos depois que alcança o seu completo crescimento. Mas, se é assim maior a bem-aventurança de quem dá do que daquele que recebe um benefício, então, à Virgem, dado que está repleta de toda beatitude, não poderá certamente faltar-lhe uma de suas prerrogativas principais. Como imaginar uma estrela do firmamento ou um Sol que esteja privado de comunicar sua luz?

A beatitude da Virgem Santíssima é semelhante à de Deus, que é essencialmente comunicativa. De fato, o bem tendo por sua própria natureza a se expandir, propriamente como acontece com a luz.

São Lourenço de Brindisi, La Vergine nella Bibbia

[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 411.]

No trecho transcrito acima, de autoria de São Lourenço de Brindisi – um dos maiores mariologistas de todos os tempos -, o santo fala da capacidade de doação como uma das características da bem-aventurança. Uma vez que Maria aparece, ente os humanos, como a mais bem-aventurada das criaturas, não poderia faltar-lhe, portanto, essa prerrogativa, ou seja, a de ser a doadora, a dispensadora de graças por excelência.

Não se tenha dúvida: ao defender tal premissa, São Lourenço falava não como quem apenas crê, mas como quem, de fato, sabe.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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