O teu mestre não mais se esconderá, os teus olhos verão o teu mestre. Os teus ouvidos ouvirão a palavra que será dita atrás de ti, quer fores para a direita ou para a esquerda: “Este é o caminho, caminhai nele”.

Is 30,20b-21

Há muitos anos vinha me indagando se tenho ou não um mestre. Antes de tudo, devo dizer que essa é uma das questões mais difíceis de quantas tive que enfrentar ao longo do meu processo de Individuação.  A dificuldade está principalmente na ambiguidade que sempre experimentei ante a perspectiva de me confiar à orientação de um mestre.

Deixar-se conduzir por um mestre é uma decisão muito séria, de consequências incalculáveis.  O mestre é aquele que indica o caminho, que orienta, que ampara nos momentos de dúvida e dificuldade, que oferece ao discípulo a segurança de que ele não precisa vacilar pois sabe que está em boas mãos. O que se busca em um mestre são alguns parâmetros sobre os quais pautar a nossa conduta.

Parâmetros éticos, porém, não são suficientes para suprir todos os anseios de um discípulo em relação ao mestre. Porque o que buscamos mesmo, em última instância, é o sentido. Esse é o grande anseio, a garantia de que a vida tem um sentido e de que estamos seguindo um itinerário seguro que nos proporcionará a experiência do sentido em toda sua plenitude.

A questão é: há um mestre que possa ser considerado apto a responder satisfatoriamente a uma demanda de tal envergadura?  Em caso afirmativo, duas outras questões se impõem. Primeira: como e onde encontrá-lo? Segunda: quais são as condições para segui-lo?

Creio poder afirmar que este Mestre existe, sim. Quanto às condições para segui-lo, não me sinto ainda suficientemente autorizado a falar delas. Uma, porém, é indispensável, podendo-se mesmo dizer que ela é a condição primordial da qual dependem todas as demais: dizer sim quando o ouvirmos surrar: “Este é o caminho. Segue-o!”

Portanto, esteja atento. Se você –a exemplo do que me aconteceu durante um longo tempo -, busca o Mestre com sinceridade, não desista, no momento certo, quando menos esperar, você ouvirá a sua voz chamando-o para que o siga. Digo isso porque, um dia, uma promessa me foi feita de que eu ouviria a voz do Mestre, e resolvi acreditar. E desde então, muita coisa começou a mudar, e habituei-me a ouvir a sua voz susurrando nos lugares e nas sintuações mais insólitas e inesperadas.

E eu nem preciso vê-lo para saber que Ele está presente, pois seguir as suas instruções me tem proporcionado tais maravilhas, que é impossível duvidar.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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