Há uma frase célebre proferida pelo teólogo católico Karl Rahner (1904-1984), muito citada quando o assunto é a dificuldade enfrentada pelos cristãos que já não se sentem motivados a permanecer professando uma religião que perdeu os atrativos para o homem imerso num mundo laicizado, que busca exclusivamente na razão explicações para a vida. Afirmou ele: “O cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão”, completando, a seguir: “Desde que não se entenda por mística fenômenos parapsicológicos raros, mas uma experiência de Deus autêntica, que brota do interior da existência”.

Não posso deixar de pensar nas palavras do teólogo cada vez que leio Teresa d`Ávila. Nascida na Espanha em 1515 e falecida em 1582, essa santa carmelita, também conhecida por Teresa de Jesus, é um dos epítomes da mística cristã. Declarada Doutora da Igreja, suas obras constituem, ainda, um dos maiores apelos a todos os que insistem em buscar uma alternativa de experiência religiosa calcada no cristianismo. Escritora prolífica, legou-nos obras magníficas, dentre as quais se destacam “O Castelo Interior” e o “Livro da Vida”. Este último mereceu da escritora cearense Rachel de Queiroz uma primorosa tradução para o vernáculo.

Nessa quarta-feira, 15 de outubro, tem início as comemorações do quinto centenário da Doutora carmelita, a ser celebrado em 28 de março de 2015, data de seu nascimento. A propósito, arriscaria dizer que, cinco séculos depois, a obra de Teresa d`Ávila continua atualíssima enquanto proposta de experiência profunda de encontro do homem com Deus. Teresa responde de forma perfeita ao desafio lançado por Karl Rahner aos cristãos do século XXI. Mulher atuante, ela conseguiu unir de maneira invejável ação e contemplação e, nesse aspecto, aparece como figura privilegiada para homens e mulheres deste século. Organizei para uso pessoal uma antologia de frases suas, garimpadas ao longo de mais duas décadas. Eis uma das minhas prediletas: “Não dou atenção à razão, que não passa de uma louca modesta”.

Teresa tem arregimentado discípulos fervorosos. Edith Stein conta-se dentre as suas mais conhecidas seguidoras. Transcrevo, em tradução minha, um trecho do livro do carmelita Carlos Ros, “Teresa de Jesús, esa mujer”, no qual o autor relata a conversão de Edith: “Escritora viva em nossos dias – assim denominou-a Edith Stein, a conversa mais ressoante de Teresa de Jesus. Jovem judia alemã, assistente do filósofo existencialista Edmund Husserl, cabeça especialmente privilegiada do saber filosófico, no verão de 1921 encontrou na biblioteca de uma família amiga o Livro da Vida de Teresa de Jesus. Leu-o durante toda a noite. [Conclui Edith Stein]: Quando fechei o livro, disse para mim mesma: esta é a verdade”. (Ros, Carlos. Teresa de Jesús, esa mujer. – Madrid: San Pablo, 2011, p. 522.)

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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