No livro “Power places of Kathmandu”, escreve o autor, Kevin Bubriski: “Lugares de poder são a sede dos deuses, pontos focais de energia divina. Nas tradições hindus e budistas do Vale de Kathmandu, o lugar primário de comunicação com os deuses está em suas residências: pithasthan, livremente traduzido como ´lugares de poder`. Os locais de poder são janelas sobre o reino do divino. Eles são a fonte de revitalização espiritual e renovada energia psíquica” (tradução minha).

Adquiri esse livro na “Pilgrims Book House”, a maior livraria de Kathmandu. Por duas vezes estive no Nepal. A primeira, em 1996, ocasião em que fiz um trekking de sete dias pelas trilhas de montanha. A segunda, em 1999, quando encetei uma jornada de 950 quilômetros ao longo da cordilheira do Himalaia, iniciando-se em Lhasa, capital do Tibet, e terminando em Kathmandu.

O Nepal, com uma população de mais de trinta milhões de pessoas, é um dos países mais pobres da Ásia. Contraditoriamente, é um dos mais ricos do mundo em biodiversidade, devido a sua localização geográfica, além de ser detentor de um dos maiores potenciais hidrelétricos do planeta, com diversos rios perenes. País multiétnico, possui uma cultura peculiaríssima. Até pouco tempo uma monarquia, desde 2008 passou a se denominar República Democrática Federal. É para essa nação que o mundo inteiro tem voltado seu olhar nos últimos dias.

Na quarta-feira, 22 de abril, ao postar no facebook um vídeo mostrando o Vale de Kathmandu, escrevi: “Saudade de Kathmandu, de suas fabulosas paisagens, sua música, seu povo tão amável e acolhedor. A primeira vez que lá estive, ao degustar uma Tuborg, deliciosíssima cerveja, o garçom se aproximou da mesa em que me encontrava e, para minha grande surpresa, indagou: ´Are you nepali?` Ele queria saber se eu era nepalês, pois, segundo disse, eu me assemelho muito ao povo nepalês. O episódio valeu por tudo mais que pudesse me acontecer ao longo da minha peregrinação àquele extraordinário país, cheio de tantos encantos e magia. Isso ocorreu em 1996. Três anos depois, retornei ao Nepal. Elegi-o como minha segunda pátria. Nunca senti tanta familiaridade com uma outra cidade como sinto com sua capital, Kathmandu. Mistérios que não consigo explicar…”

Três dias depois, ao acessar a internet logo cedo, a primeira notícia que vi dava conta de um devastador terremoto que assolara o Nepal naquela manhã, ceifando milhares de vidas e devastando Kathmandu. Fiquei atônito. Lembrei da minha postagem no facebook. Nada em especial me motivara a escrever aquele pequeno texto, a não ser o meu grande amor pelo Nepal e seu povo. Mera coincidência? Pode ser, mas prefiro acreditar que algo bem maior que uma simples coincidência me levou a fazer aquela postagem. Não tenho, entretanto, uma explicação plausível. O fato se inscreve no rol dessas coisas que nos acontecem de vez em quando e que se furtam a qualquer tentativa de uma explicação lógica.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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