Dizendo de forma mais precisa, este livro foi escrito a partir da convicção, segundo a qual, se quisermos dizer algo verdadeiramente sério a respeito de Jesus, é imprescindível tomar como ponto de partida uma questão que me parece determinante para a cristologia. Esta questão pode ser formulada da seguinte forma: quando falamos da união de Deus com o ser humano, trata-se primordialmente e, antes de tudo, da humanização do divino ou, antes, estamos falando da divinização do humano? Obviamente, a encarnação de Deus supõe ambas as coisas. Porém, este livro foi escrito com a convicção de que, ao afirmar que “Jesus é perfeito na divindade e perfeito na humanidade” (definição do Concílio de Calcedônia), apenas com isso não resolvemos o problema central da cristologia. Porque, se falamos da união de Deus com o ser humano, essa afirmação nos coloca diante de uma disjuntiva que orienta a vida inteira em duas direções distintas. O que significa e o que representa Jesus para qualquer ser humano? Significa e representa um projeto de divinização ou significa e representa um projeto de humanização? Em última instância, trata-se de saber se a missão do cristianismo e da Igreja consiste em divinizar-nos ou, ao contrário, se essa  missão consiste em nos humanizar! Dir-se-á que se trata de ambas as coisas. De acordo, porém, como se há de explicar essa união para que nela se respeite sua razão de ser, sua verdadeira natureza e sua finalidade?

José M. castillo

[Castillo, José M. Jesus: a humanização de Deus: ensaio de cristologia. Tradução de João Batista Kreuch. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2015, p. 10.]

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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