O nome Maria, que é hebreu, quer dizer em português Senhora Soberana. E a Senhora é realmente Soberana, em virtude da soberania que Lhe foi conferida pelo Filho, Rei e Soberano do Universo. Chamemos a Maria Nossa Senhora, pelo mesmo título que chamamos a Jesus Nosso Senhor. Pronunciar o Seu nome é afirmar o seu domínio, implorar o seu auxílio e colocarmo-nos debaixo da sua proteção maternal.

Missal Quotidiano e Vesperal

[Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Notação moderna da música por P. CH. Van de Walle; Ilustrações de R. de Cramer. – Bruges, Bélgica, 1957, p. 1546.]

Até a reforma do calendário litúrgico, a Igreja Católica celebrava, no dia 12 de setembro, a festa do Santíssimo Nome de Maria, instituída com indulto apostólico em 1513 e concedida a algumas igrejas particulares, depois estendida por Inocêncio XI, em 1683, a toda a cristandade, após a vitória obtida pelos soldados de João Sobieski, rei da Polônia, sobre o exército turco que assediava Viena. A celebração, atualmente, é limitada às igrejas locais.

Até agora eu nunca havia lido ou escutado nada sobre essa festa, apesar dos meus muitos anos de leitura e estudos de mariologia. Tratei, pois, hoje cedo, de buscar no meu exemplar do Missal Quotidiano e Vesperal informações sobre o assunto. E lá estava, a partir da página 1546, o texto do ritual conforme celebrado no antigo calendário litúrgico da Igreja. À contextualização do evento, em que é enaltecido o Santo Nome da Virgem Maria, segue-se o belo introito da Missa, cujo texto reza:

“Curvar-se-ão diante de Ti os mais ricos do povo. As virgens serão apresentadas ao Rei depois dela. As suas companheiras ser-te-ão apresentadas com alegria e com júbilo. Saiu do meu coração uma palavra boa: consagrarei ao Rei todo o meu ser. Glória ao Pai.”

O Santíssimo Nome de Maria. Que posso dizer desse nome? Tudo quanto eu pudesse falar dele seria pouco. Não sei se seria exagero ao afirmar que nenhuma palavra é tão presente em meu vocabulário quanto esta: Maria. Tantas vezes e em tão díspares situações a frase “Maria passa na frente, resolvendo o que eu não posso” tem sido por mim repetida mentalmente ao longo do dia. Outras tantas vezes, quantos de nós, ante uma periclitante situação, não encontramos outra alternativa a não ser pronunciar automaticamente a frase: “Minha Nossa Senhora!”? Em que pese o automatismo da sentença, serve-nos ela de lenitivo e apaziguamento nas horas de dificuldade.

As palavras têm poder. Em se tratando de nome próprio, então, dependendo do ser nominado e da forma como o pronunciamos, esse poder se faz notar de imediato. É como se o ato de enunciar o nome tivesse como prerrogativa evocar a presença do nominado.

Mas será que se trata, apenas, de um “como se”? Penso que não. Creio que a um devoto fiel e sincero Maria não falta quanto solicitada a socorrê-lo pela evocação reverente de seu Santo Nome. Nesse caso, Ela se faz presente na vida do devoto no momento exato em que ele clama por seu socorro, sem que, muitas vezes, se dê conta disso. De que forma se chega a essa conclusão? Pelos efeitos produzidos pela evocação.

Ousaria dizer: nesse caso, não se trata de fé, mas de fatos. A fé está implícita, sim, pela esperança do devoto na intercessão de Nossa Senhora. Mas como o resultado é inevitável e imediato, passa-se logo à dimensão factual. A quem restar dúvidas, que faça a experiência e tire suas próprias conclusões.

Por fim, devo dizer que, até quando não o menciono explicitamente, o nome de Maria continua presente em minha vida em diversas ocasiões do meu quotidiano. É que o seu nome está implícito na oração que recito mentalmente diversas vezes ao longo do dia, o Magnificat. É o meu mantra. Recitá-lo mentalmente me acalma e me traz de volta para o meu centro, para o meu eixo, focando a minha mente quando a dispersão dos milhões de estímulos que nos bombardeiam a cada instante ameaça me estilhaçar em mil fragmentos.

Nessas ocasiões, sem pronunciar o seu nome, me uno a Maria, glorificando, ao mesmo tempo, Aquele cujo nome não se ousa pronunciar, motivo pelo qual a Virgem atribui-lhe o qualificativo de Santo: “…o Todo Poderoso fez por mim grandes coisas, Santo é o Seu Nome”.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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