Carroça passa/ Enxada fere o chão/ Jumento e bicicleta/ Marmita bem amarrada/ Menino na beira da estrada/ A lata de querosene/ Que agora leva água/ Combustível do sertão

Jord Guedes – Combustível do sertão

[CD: Traços, de Jord Guedes. Faixa 1: Combustível do sertão – Letra e música de Jord Guedes]

Tarde de sábado, seguia dirigindo meu carro pela Treze de maio quando resolvi ligar o rádio. Calhou de estar sintonizado na FM Universitária, de onde ecoavam versos de uma canção que dizia: “Olha essa moça passando na rua/ Chegando do meio do mundo/ Gira, gira, girou/ Quem por aqui passou  // Ah! Que essa moça é assim/ Sempre chegando/ Sempre trazendo no olhar/ Traços de algum lugar” (Traços).

A suavidade e delicadeza da voz despertou em mim a curiosidade de saber quem era aquela moça que, em melodiosa canção, trazia não somente no olhar, mas também na voz, “traços de algum lugar”. Quem seria a moça? Que traços traria? E de que lugar?

Não tardei a descobrir que a moça gosta de canções, e faz delas uma felicidade: “Pra ser feliz, não precisa muito não/ Só, quem sabe, um cantinho, um violão/ Pra compor uma música para o coração/ Pra compor uma música para o coração” (Pra ser feliz).

Logo mais eu fazia outra descoberta. Além de canções, a moça é também uma apreciadora de livros e da boa literatura: “Livros agora coram ao sol/ A livrar-se do cheiro do tempo/ Miguel de Cervantes, Bocage, Tolstoy/ Enciclopédias quantos volumes/ Capítulos da vida que vai/ Segue o curso/ A vida que vai” (A casa de ontem ).

Descobri, depois, que a moça da canção é formada pelo curso de extensão em Música da Universidade Federal do Ceará-UFC. Cantora e compositora, marca seus passos no universo musical desde 2005, com participação em diversos eventos de música competitivos, dentre os quais o Festival de Inverno da Meruoca, o Festival Cariri da Canção, o Festival de Inverno de Garanhuns e o Festival da Assembleia Legislativa do Ceará.

Constatei, a seguir, que em suas incursões musicais a tal moça já pisou muitos palcos, tendo realizado diversos shows, dentre eles, Samba pra Mário Lago, Maracatus e outros B@tuques, Canto Cear@, Uma Divina Comédia Humana e Traços.

A propósito, os dois últimos veros da canção que deu nome a esse último show, Traços, trazem duas indagações: “Moça, que sonhos sonhou?/ Moça, por que acordou?”

Identificando nesses versos um sutil toque autobiográfico, diria que a moça a quem se dirige a indagação é a própria moça que canta, uma nordestina egressa do sertão caririense que, certa vez, sonhou traçar canções e, misturando sons e ritmos diversos como samba, pop, baião e maracatu, um dia qualquer no tempo acordou para fazer desse sonho o combustível com o qual vai tecendo melodias e, com isso, reencantando esse nosso mundo tão desencantado.

É assim o CD Traços, que assinala a estreia autoral de Jord Guedes no cenário musical brasileiro: um toque suave de musicalidade a nos lembrar que “A gente às vezes se sente tão pequeno/ Um grão de areia no meio da imensidão/ Mas se a felicidade de um suspiro vale a pena/ Sentimos que a vida pode vir a ser poema” (Pra ser feliz).

Acesse o link abaixo e ouça/veja “Combustível do Sertão”, letra, música e interpretação de Jord Guedes:

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=BTdAe3nlOLE[/youtube]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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