Noite de sexta-feira, sete de outubro de 2016. Logo ao chegar, fui saudado com um caloroso “abraço belchiórico” pelo escritor Ricardo Kelmer, ali desempenhando o papel de mestre de cerimônias, honra mais do que merecida, afinal partiu dele a ideia da homenagem.

Pouco a pouco, um a um foram se juntando a uma mesa os artífices do espetáculo que logo mais teria lugar no palco principal do Teatro José de Alencar. Antes, porém, no foyer, composta a mesa, sem nenhuma formalidade, teve início a sessão de autógrafos. Tratava-se do livro “Para Belchior com amor”, composto por textos da lavra de quatorze escritores, em homenagem aos 70 anos do cantor cearense.

Terminada essa primeira parte, teve início a segunda, ocasião em que subiu ao palco o ator Ricardo Guilherme, emocionando a todos ao cantar, a capela, uma canção inédita em disco, composta pelo Belchior para a peça Morro do Ouro. Seguiram-se apresentações da cantora Jord Guedes e dos cantores Lúcio Ricardo e Erickson Mendes, rememorando as belas composições do cantor sobralense.

No dia seguinte, muito cedo eu já estava de posse do livro adquirido no dia anterior. À medida em que folheava suas páginas, me deleitava com as dedicatórias. A professora e escritora Cleudene Aragão me fazia um provocativo desafio ao rabiscar, na primeira página do texto intitulado “Coração selvagem”, de sua autoria, o convite: “Vasco, vem correr perigo”. Ao ler o seu texto, percebi que ela se referia a um trecho em que, num diálogo imaginária com Belchior, este lhe diz: “Amar é muito perigoso, parafraseando o Rosa. Precisaria encontrar alguém que pudesse compreender a minha solidão, o meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver. E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo outra vez. Como você pode imaginar, isso é bem difícil.”

Ana Carla Dubiela, por sua vez, depois de um vigoroso “Vasco, torço por você!” (sem esclarecer se se referia a mim, ao time ou a ambos), me desejou “Amor e poesia!” O Raymundo Netto disse tratar-se aquele livro de “um retrato irretocável de nosso artista”. Jeff Peixoto me fez ver que “somos todos sujeitos de sorte ao contemplar Belchior”.

À medida que avançava na leitura, fui percebendo que cada um dos autores, partindo de versos do Belchior, falava de questões profundas que tocam existencialmente cada um de nós. Fechei o livro e me pus a rememorar alguns versos de minhas canções prediletas, versos que me calam fundo no ser, como aqueles de “Fotografia 3×4”, “Pequeno perfil de um cidadão comum” ou “Conheço o meu lugar”. Ante isso, e pensando na querela sobre o desaparecimento do cantor, não pude deixar de admirar a percuciência de Ricardo Guilherme ao escrever a seguinte dedicatória no texto de sua autoria: “Vasco, olha onde está o Belchior: em nós.”

A programação completa dos eventos do projeto “Belchior Sete Zero”, idealizado e organizado por Ricardo Kelmer, pode ser conferida no link:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154025469432776&set=gm.311221025915379&type=3&action_history=null&pnref=story

 

 

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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