Logo, se Maria não achou a graça para si, porque sempre dela esteve cheia, para quem a achou? Responde o Cardeal Hugo, num comentário a este passo: Achou-a para os pecadores que a tinham perdido. Corram, pois, a Maria os pecadores que perderam a graça, porque em seu poder a acharão certamente, continua este devoto escritor, e digam-lhe: Senhora, a coisa achada deve-se restituir a quem perdeu; aquela graça, que vós achastes, não é vossa, porque nunca a perdestes; é nossa, porque a perdemos, por isso no-la deveis restituir. Se, pois, desejamos recuperar a graça do Senhor – conclui Ricardo de S. Lourenço -, vamos a Maria, que a encontrou e sempre a encontra. E já que a Virgem foi e sempre há de ser muito querida por Deus, se a ela recorremos, certamente acharemos a graça.

Santo Afonso Maria de Ligório

[Ligório, Santo Afonso Maria de. Glórias de Maria: com indicação de leituras e orações para dois meses marianos. – Versão da 11ª edição italiana pelo Pe. Geraldo Pires de Souza. – 3ª ed. – São Paulo, SP: Editora Santuário, 1989,  p. 75.]

Santo Afonso Maria de Ligório, um dos santos que maior afeção dedicou à Virgem Maria, ao comentar a passagem do Evangelho de Lucas em que o Arcanjo Gabriel disse a Maria: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus” (Lc 1,30), indaga: “Mas, se Maria nunca se vira privada da graça, como podia dizer o anjo que a tinha achado? Só se pode achar uma coisa que se perdeu. A Virgem, entretanto, sempre esteve com Deus e não só em graça, mas cheia de graça, como o mesmo arcanjo manifestou, quando, ao saudá-la, lhe disse: Ave, Maria, cheia de graça; o Senhor é contigo…” (p. 75). A seguir, citando o Cardeal Hugo, responde à própria indagação afirmando que Maria achou a graça não para si, mas para os pecadores que a tinham perdido.

Os eventuais leitores deste Blog sabem que, desde o início, uma das minhas maiores fontes de postagens tem sido a Vigem Maria. Durante bastante tempo mantive o hábito de postar semanalmente, sempre aos sábados – dia dedicado a Nossa senhora -, um texto sobre Maria. Depois, por uma série de motivos, as postagens foram se espaçando. Hoje volto às postagens relativas à mariologia, com o propósito de retomar o antigo hábito. Faço-o por um motivo muito especial. Neste sábado me aconteceu uma sincronicidade particularmente significativa envolvendo uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças. Foi algo simples mas que, para mim, especialmente no contexto em que aconteceu, se revestiu de um significado tão importante, que não pude me furtar ao  desejo de postar um texto dedicado especificamente a Nossa Senhora das Graças.

Na verdade, sou devoto de Nossa Senhora sob esse título desde a infância. Há muitos anos uso sua medalha, também conhecida como medalha milagrosa. Tudo o que posso afirmar é que a devoção à Mãe de Deus, não importa sob que título ou atributo a reverenciemos, é um manancial inesgotável e surpreendente de graças e bênçãos. Nesse sentido, concordo absolutamente com a passagem do livro de Santo Afonso, citada no início

De fato, Maria achou a graça diante de Deus, mas não para ela, que de graça não precisa, mas para nós, homens e mulheres tão carentes de um amparo que nos sustente nos momentos de angústia, quando nos sentimos sozinhos e sem ter a que ou a quem recorrer.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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