Mas o caminho que João Bosco havia traçado era o caminho do céu, por onde seguia passo a passo, dia a dia. Que lhe importavam as dificuldades que encontrasse? Havia de vencer todas. Mas não devia fazer sozinho essa caminhada, porque devia levar consigo, até aos pés da Virgem Maria, aqueles bichinhos que Ela lhe apresentara um dia, em sonho.

Lúcia Casasanta

[Lúcia Casasanta. Dom Bosco e seus bichinhos. – Em: As mais belas histórias. Belo Horizonte: Editora do Brasil em Minas Gerais S.A., p. 147.]

 

Tem início hoje o mês que, para mim, é um dos dois mais belos meses do ano. Os dois meses a que me refiro são maio e dezembro. Maio, por ser o mês dedicado a Maria, e dezembro, por ser o mês do nascimento de Cristo.

Minha devoção a Nossa Senhora teve início quando eu ainda era criança. Na ocasião, com apenas nove anos de idade, caiu-me às mãos, graças a um tio, o livro de Lúcia Monteiro Casasanta, As mais belas histórias. Este livro foi editado em 1969 pela Editora do Brasil em Minas Gerais S. A.

O livro tem quarenta e oito capítulos. Dentre estes, dois sobressaem. Um dos capítulos intitula-se Dom Bosco e os seus bichinhos. Quanto ao outro, não revelarei ainda o título, pois dele tratarei no artigo que postarei amanhã.

A leitura dessa pequena biografia de Dom Bosco, escrita para crianças, teve o condão de fazer de mim um devoto de Nossa Senhora e de Dom Bosco. A partir do dia em que fiz essa leitura, passei a rezar todas as noites três Ave Marias e oferecê-las a Nossa Senhora e a Dom Bosco. Recordo que, por mais sono que eu estivesse sentindo, nunca ia dormir sem fazer essa oração.

Lembro nitidamente de ocasiões em que, sentindo muito sono, me deitava sem que antes tivesse rezado. Mas, já quase adormecendo, de repente, lembrava: não rezei minha oração. Sentava imediatamente na rede e começava a rezar.

Um dos trechos da história que sempre me encantou foi aquele em que a autora narra um dos maravilhosos sonhos de Dom Bosco, na verdade, o primeiro, que ela tivera quando contava apenas nove anos de idade. Eis como narra Lúcia Casasanta em seu belo livrinho.

“João Bosco, vencido pelo cansaço, pôs os sacos no chão e sentou-se à beira da estrada. Vendo, ao longo, a torre de um castelo em ruínas que saía dentre a espessa verdura, recordava um sonho que tivera aos nove anos. E, recordando-se, via outra vez tudo.

Estava num terreno espaçoso, cheio de meninos que se divertiam. De brincadeira em brincadeira, passaram aos socos e murros, enquanto soltavam palavrões e rogavam pragas. João Bosco avançou contra eles, obrigando-os a calar. Naquele momento, surgiu a seu lado um homem vestido com um manto branco e de rosto tão luminoso que não se podia fitar. Chamando-o pelo nome, disse-lhe:

– João, não é com pancadas que você os pode conquistar, mas com caridade e mansidão. Ensine-lhes a religião e mostre-lhes o valor da virtude e a fealdade do pecado.

– Mas, Senhor, se nada sei, como poderei ensinar-lhes?

– Dar-lhe-ei a Mestra. Ei-la!

Virando-se, deu com uma mulher resplandecente como as estrelas. Tomando-o bondosamente pela mão e apontando para os meninos, disse-lhe:

– Olhe!

– Torne-se humilde, forte e robusto, e o que viu acontecer a esses animais deverá fazê-lo a meus filhos.

De repente, os animais que o cercavam transformaram-se em mansos cordeirinhos, que saltitavam e corriam, balindo alegremente, em torno deles, como se quisessem fazer festa àquele Homem e àquela Senhora.

Desatara a chorar porque não compreendia o que queriam dele.

Nossa Senhora disse-lhe algumas palavras que soavam nítidas no seu ouvido àquela hora:

– Há de compreender tudo com o tempo, João Bosco.

Acordara.” (p. 147).

Coincidência ou não, foi também aos nove anos de idade, que me caiu às mãos o livrinho com a história de dom Bosco. Ao narrar este fato, ocorre-me agora uma coisa bem peculiar. Inúmeras vezes, ao longo da minha vida, ocorreu – e ainda ocorre, com certa frequência – de ser surpreendido ouvindo pessoas que, mesmo me conhecendo por Vasco, me tratarem por Bosco. Não sei se devo creditar isso apenas a uma certa similaridade dos nomes ou se, quem sabe, haja algo mais envolvido nesse lapso. A propósito desse fato, há algo mais a relatar, que acabo de constatar, com surpresa. Ontem, sem nenhum motivo especial que o justifique, decidi que, ao longo deste mês dedicado a Maria, leria as biografias de Dom Bosco e escreveria diariamente, ao longo dos trinta e um dias, sobre um tema mariano relacionado ao santo italiano. Eu não havia planejado isso. Que coisa estranha!

Para concluir, quero transcrever mais um trecho da historinha de Lúcia Casasanta. Escreve a autora: “Mas os anos passavam. Já com doze anos, pobre, paupérrimo, continuava a trabalhar na enxada, ou pastoreando as vacas. Como poderia ordenar-se para realizar melhor o seu plano de amansar os bichinhos? Em quem poderia confiar? João Bosco sabia em quem podia confiar e confiava: – em Nossa Senhora.” (p. 151).

Eu também, nos momentos de maior aflição, de desespero mesmo, quando não mais ninguém a quem recorrer, é sempre para ela que tenho apelado e para quem sempre apelarei: Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa misericordiosa Mãe.

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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