Press ESC to close

12. E vós, quem dizeis que eu sou?

87 Articles
Vasco Arruda

Não é mais no presépio que nos aparece o Corpo de Cristo, mas sobre o altar. Não é mais nas mãos de uma pobre mulher. Olhai: o sacerdote o tem, e este corpo não somente o vedes, mas o tocais; não somente o tocais, mas o comeis e o levais para a vossa casa.
Aquilo que temos sob os olhos (no altar) não é obra da potência humana. Aquele que vistes atuar na última ceia opera ainda sobre nossos altares; somos apenas seus ministros; é ele que sacrifica e que transforma.
São João Crisóstomo
[São João Crisóstomo. Hom. 21. Em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 492.]

Vasco Arruda

Jesus Cristo é palavra em que o termo Messias (Cristo) passou a formar componente essencial. Isto corresponde à realidade de sua pessoa e missão. O evangelho de João resume todo o seu objetivo com estas palavras: “Estas coisas foram escritas para que creiais que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20,31). A qualidade de Jesus como Messias, junto com a de Filho de Deus, são a afirmação central do NT. Os relatos do Batismo, da profissão de fé de Pedro e da Transfiguração, bem como a entrada triunfal em Jerusalém e a confissão diante do Sinédrio formam impressionante conjunto que mostram a centralidade desta concepção.
Estes textos que, juntamente com os milagres e com o relato da Paixão-Ressurreição, constituem o núcleo da catequese pré-sinótica são, como Evangelho, o anúncio da pessoa de Jesus e de sua obra salvadora, isto é, de sua messianidade.
Cada evangelista, como veremos em seguida, aborda dentro de sua própria perspectiva este evangelho, porém todos coincidem na afirmação fundamental: Jesus é o Messias, o Filho de Deus.
[Domingo Muñoz León, verbete: Jesus Cristo. Em: Dicionário teológico: o Deus cristão. Dirigido por Xabier Pikaza e Nereo Silanes; tradução I.F.L. Ferrreira, Honório Dalboso e equipe. – São Paulo: Paulus, 1988, p. 476. – (Série dicionários)]

Vasco Arruda

Enquanto a hierarquia católica insiste na necessidade do “magistério eclesiástico” para instruir e guiar os fiéis, setores importantes de cristãos orientam hoje sua vida sem levar em consideração suas diretrizes. Para onde pode levar-nos este fenômeno? A questão inquieta cada vez mais.
Alguns teólogos acreditam ser necessário recuperar a consciência do “magistério interior”, tão esquecido entre os cristãos. Chega-se a dizer o seguinte: pouco adianta insistir no “magistério hierárquico” se nós crentes – hierarquia e fiéis – não escutarmos a voz de Cristo, “Mestre interior” que continua instruindo através de seu Espírito os que realmente querem segui-lo.
A ideia de Cristo “Mestre interior” tem sua origem no próprio Jesus: “Não chameis a ninguém de mestre, porque um só é vosso Mestre: Cristo” (Mt 23,10). Mas foi sobretudo santo Agostinho quem a introduziu na teologia, reivindicando com força sua importância: “Temos um só Mestre. E sob ele somos todos condiscípulos. Não nos constituímos mestres pelo fato de falar-vos a partir de um púlpito. O verdadeiro Mestre fala a partir de dentro”.
A teologia contemporânea volta a insistir nesta verdade demasiadamente esquecida por todos, hierarquia e fiéis: as palavras pronunciadas na Igreja só devem servir como convite para que cada crente ouça dentro de si a voz de Cristo. É isto que é decisivo. Somente quando alguém “aprende” do próprio Cristo produz-se “algo novo” em sua vida de crente.
Isto traz consigo diversas exigências. Sobretudo para aqueles que falam com autoridade dentro da Igreja. Eles não são os proprietários da fé nem da moral cristã. Sua missão não é julgar e condenar as pessoas. Menos ainda “impor fardos pesados e insuportáveis” aos outros. Não são mestres de ninguém. São discípulos que devem viver “aprendendo” de Cristo. Só então poderão ajudar os outros a “deixar-se ensinar” por Ele. Santo Agostinho interpela assim os pregadores: “Por que gostas tanto de falar e tão pouco de escutar? Quem ensina de verdade está dentro; entretanto, quando procuras ensinar, sais de ti mesmo e vais para fora. Escuta primeiro aquele que fala dentro de ti, e a partir de dentro fala depois aos que estão fora”.
Por outro lado, todos nós precisamos recordar que o importante, ao ouvir a palavra do magistério, é sentir-nos convidados a voltar-nos para dentro a fim de escutar a voz do único Mestre. Quem nos recorda isto é também santo Agostinho: “Não vás para fora. Não te esparrames. Penetra em tua intimidade. A verdade reside no homem interior”. É instrutiva a cena em que Jesus elogia a atitude de Maria, que, “sentada aos pés do Senhor, escutava sua palavra”. As palavras de Jesus são claras: “Só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte”.
[Pagola, José Antonio. O caminho aberto por Jesus: Lucas. Tradução de Gentil Avelino Titton. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, p. 191.]

0 32
Vasco Arruda

É compreensível começar a cristologia por uma soteriologia. A mensagem cristã anuncia a salvação, uma grande intervenção divina da qual Cristo é o instrumento, o fautor.
Deus é autor, o Cristo fautor, e os diversos episódios da ação divina vão da morte de Cristo, passando pela ressurreição, pregação do Evangelho, oposições coligadas contra Cristo (com as perseguições), até a parusia e a vitória final. Não é possível isolar o drama desenrolado na cruz, uma vez por todas, querendo depois que seja reproduzido em mistério ou participado na fé, a fim de se distribuírem aos homens os frutos da vitória. O mesmo poder de Deus esteve em ação na morte de Cristo e em sua ressurreição, está em ação na pregação do Evangelho, salvando os que crêem (Rm 1.16) e desabrochará na parusia. Deus salva por Cristo, desde a obra da cruz até a consumação final.
[Cerfaux, Lucien. Cristo na teologia de Paulo. Tradução Monjas Beneditinas da Abadia de Santa Maria. – Santo André, SP: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2012, p. 21.]

0 21
Vasco Arruda

Para nós cristãos, Jesus é o Filho de Deus, no qual Ele se revelou a nós. Karl Rahner chama Cristo de autorrevelação absoluta do Pai. E Jesus é, para nós, o Redentor, que nos remiu do pecado e da culpa, que preencheu nossa natureza humana mortal e deteriorada com sua vida divina e assim curou, mas Ele é também o ser humano que viveu há dois mil anos atrás. Os evangelistas nos contam que curou doentes, falou com as pessoas, mostrou caminhos da sabedoria e contou parábolas.
Devemos meditar sobre todas as palavras e histórias em que Jesus interage, fala com as pessoas e age nelas, para reconhecermos o Mestre como médico e terapeuta, como pastor de almas e acompanhante espiritual abençoado.
Anselm Grün
[Grün, Anselm. Jesus como terapeuta: o poder curador das palavras. Tradução de Markus A. Hediger. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, p. 195.]

0 29
Vasco Arruda

Mestre é mais que um professor, um doutor e um técnico. É a pessoa que atingiu tal grau de perfeição, que sua técnica virou arte e ele se tornou um mestre: mestre em falar, em escrever, em pintar, em curar, em jogar futebol, em aconselhar e em consolar. O mestre não apenas ensina. Vive o que ensina. Sua vida é testemunho de suas ideias. Por isso, chamam-se de mestres os fundadores e os representantes mais preeminentes das tradições espirituais do cristianismo, do budismo, do hinduísmo e de outras denominações. Estas tradições mantêm-se vivas porque podem produzir outros mestres que galvanizam seguidores, os discípulos.
Inúmeras vezes nos evangelhos Jesus é chamado de Mestre e invocado na tradição cristão como Divino Mestre. Ele se insere não apenas na tradição dos mestres de seu povo, mas também dentro da grande tradição dos mestres da humanidade. Entretanto, sua grandeza não se faz diminuindo os outros, mas valorizando-os, prolongando sua missão e aprofundando seus ensinamentos. O Novo Testamento chama Jesus de “o Mestre” (cf. Mt 23,10) porque viu nele uma excepcional coerência e identificação entre o que ensinava e pessoalmente vivia. Na acepção dos cristãos, Mestre assim só pode ser Deus mesmo!
Na compreensão contemporânea poderíamos dizer que Jesus, semelhante a outros mestres de religiões conhecidas, se transformou no arquétipo do Mestre. Nele há tanta excelência de doutrina, tanta coerência entre o que fala e o que vive, tanta irradiação de luz, que se transformou numa figura exemplar e numa referência universal.
O arquétipo nunca é algo inerte. Vive ligado sempre a experiências profundas de valor e de sentido plenificador. Encontrar-se com Jesus-arquétipo é entabular um diálogo vivo com ele, a partir de nossa profundidade onde ele se manifesta como Mestre. É ouvir sua mensagem que se atualiza quando confrontada com as questões vividas pessoalmente ou que irrompem da realidade circundante. É colocar-se aos pés de Jesus, como o fizeram seus apóstolos e suas amigas, as irmãs Marta e Maria.
Leonardo Boff
[Boff, Leonardo. A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 115.]

0 29
Vasco Arruda

O fato de que a assunção da figura messiânica do poderoso filho de Davi está unida à exigência de reconhecê-lo em sua humildade e com a necessidade de se disponibilizar para a aceitação de uma perspectiva messiânica diversa daquela puramente exterior, importa em um convite para se aproximar dele essencialmente por uma atitude de fé. E é isso que, muitas vezes, ele propõe explicitamente, como condição prévia para que se possa tirar proveito de sua obra salvífica, manifesta em seus milagres. Além disso, somente no mais íntimo do espírito humano é que seu poder messiânico, de modo especial, deverá agir, isto é, na cura espiritual do pecado. Se os escribas se mostram escandalizados quando ele proclama ao paralítico o perdão de seus pecados, o paralítico e seus corajosos carregadores que, por causa da multidão, não podendo entrar na casa onde Jesus estava, haviam-no introduzido pelo teto, ficaram desconcertados quando Jesus os atendeu, mas transferindo seu pedido de salvação para o campo da vida moral do espírito. É que, para Jesus, a chegada do Reino muda profundamente a condição humana, e não só os aspectos sociais e políticos da sociedade de seu tempo, por mais dramáticos e importantes que se mostrem. A conversão exigida para se acolher o Reino que chega consiste essencialmente em uma adesão plena e total do homem a sua obra e a sua pessoa, sendo por isso que nenhuma coisa no mundo, nem mesmo os valores ligados aos afetos familiares mais puros e mais profundos, pode ser anteposta à decisão de segui-lo, buscando-se apenas a própria salvação.
Severino Dianich e Serena Noceti
[Dianich, Severino; Noceti, Serena. Tratado sobre a Igreja. – Tradução Ubenai Fleuri. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2007, p. 131.]

1 18
Vasco Arruda

Jesus não só nos ensina a verdade, mas nos ajuda a aceitá-la. Todo mestre tem esse dever, mas só pode cumpri-lo exteriormente, procurando desembaraçar de erros a mente do aluno e apresentar-lhe a verdade de modo fácil e convincente. Jesus faz muito mais! Seu modo de agir é muito mais íntimo e profundo: é o único Mestre capaz de agir diretamente no espírito dos discípulos, na sua mente e vontade.
Jesus move interiormente o homem para aceitar seus ensinamentos e pô-los em prática. As verdades que ensina são mistérios divinos que superam a capacidade do intelecto humano. Para poder o homem admiti-los, precisa de nova luz, a luz sobrenatural da fé. Dom de Jesus e a fé, fruto de sua obra redentora: é ele “o autor e consumador da fé” (Hb 12,1), e assim como a mereceu, assim a infunde nos fiéis. Enquanto revela ao mundo as verdades eternas, infunde Jesus nos homens esta luz divina e a aumenta neles até dotá-los de ciência profunda, misteriosa, que dá a intuição, o sentido das realidades divinas.
De modo análogo, Cristo age na vontade do homem, infundindo nele a caridade sobrenatural, por meio da qual inclina-o a amar seu Salvador, a pôr em prática sua doutrina, a amar o Pai celeste e todos os irmãos. Enquanto instrui, acende Jesus nos fiéis o fogo do amor divino, exatamente como experimentaram os discípulos de Emaús, que diziam um ao outro: “Não nos ardia o coração no peito quando nos falava pelo caminho, enquanto nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
Gabriel de Santa Maria Madalena, O.C.D.
[Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 475.]