Press ESC to close

12. E vós, quem dizeis que eu sou?

87 Articles
0 17
Vasco Arruda

Ó Verbo! Ó Jesus! Quão belo sois! Quão grande! Quem chegará a conhecer-vos? Quem poderá compreender-vos? Ah! Fazei-me, ó Jesus, conhecer-vos a amar-vos.
Vós que sois a luz, enviai um vosso raio sobre minha pobre alma, a fim de que possa ver e compreender! Deixai-me pôr em vós o olhar, ó Beleza infinita! Velai um pouco os esplendores de vossa glória, a fim de que possa eu contemplar e ver vossas perfeições divinas.
Abri-me os ouvidos! Quem me dera ouvir vossa voz e meditar vossos divinos ensinamentos! Abri-me também o espírito e a inteligência, a fim de que vossa palavra chegue até meu coração, experimente-a e a compreenda.
Suscitai em mim grande fé em vós, a fim de que cada palavra vossa seja luz que me esclareça, a vós me atraia, e me leve a seguir-vos em todos os caminhos da justiça e da verdade.
Ó Jesus, ó Verbo, sois meu Senhor, meu único Mestre, falai! Quero ouvir-vos e pôr em prática vossa palavra. Vossa palavra quero ouvir, porque sei que vem do céu. Quero ouvi-la, meditá-la, praticá-la, porque em vossa palavra há vida, alegria, paz e felicidade.
Falai! Sois meu Senhor e Mestre, só a vós quero escutar.
A. Chevrier
[A. Chevrier. O verdadeiro discípulo, p. XVIII. Citado em: Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 460.]

0 21
Vasco Arruda

Ó Cristo, não sois uma verdade entre outras. Sois a Verdade, e tudo o que é verdadeiro neste mundo sois vós. Não sois um amor entre outros. Sois o Amor em quem se purificam, santificam-se, unificam-se – não diminuídos, antes completados – todos os amores autênticos. Não sois um meio entre outros, um meio a se usar ao lado de outros meios e de cuja eficácia fosse lícito duvidar… mas sois a única estrada, e ao mesmo tempo o verdadeiro termo, sois a Vida…
Ah! Senhor! Que poderia fazer sem vós, pois que tomastes tudo em mim, sois o que existe de mais íntimo em mim, sois minha grandeza, minha vida, meu tudo?
Ó Cristo, reconheço-vos como meu único Senhor, para sempre. Ai de mim se tivesse de oferecer meu coração e meu espírito a outro mestre! Porque não existem outros mestres para o homem, nem outros amores fora de vós, o Amor.
Eis todos os meus recursos, todos os meus talentos, de que posso lançar mão… Nada vos quero esconder, nada subtrair, nada vos roubar… Tudo vos entrego… Este compromisso entre mim e vós é compromisso de pessoa a pessoa, de amor a amor, cuja cláusula única consiste em jamais falar de limites ao dom… Entre nós, tudo é para a vida e para a morte.
P. Lyonnet
[P. Lyonnt, Escritos espirituais. Citado em: Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 340.]

0 42
Vasco Arruda

O Evangelho vem de Jesus Cristo, a religião não. É preciso partir de uma distinção básica, que agora vários teólogos já propuseram, entre o Evangelho e a religião. O Evangelho não é religioso. Jesus não fundou nenhuma religião. Dedicou-se a anunciar e promover o Reino de Deus, ou seja, uma mudança radical de toda a humanidade em todos os aspectos. Os pobres são os autores dessa mudança. Jesus se dirige aos pobres sabendo que só eles são capazes de atuar com essa sinceridade, com essa autenticidade de se promover um novo mundo. Jesus não fundou uma religião, mas seus discípulos criaram uma religião a partir dele. Por quê? Porque a religião é algo indispensável aos seres humanos. Não se pode viver sem religião. Como começou a religião cristã? Deve ter começado quando Jesus se transformou em objeto de culto. Isso aconteceu muito cedo, principalmente entre os discípulos que não o conheceram pessoalmente, não tinham vivido com ele nem ficado perto dele. Na geração seguinte ou entre os que viviam mais distantes, Jesus se transformou em objeto de culto e com isso se desumanizou progressivamente. O culto a Jesus vai substituindo o seguimento de Jesus. Jesus nunca tinha pedido aos discípulos um aro de culto, nunca tinha pedido que lhe oferecessem um rito, nunca. Ele quis o seguimento. Jesus veio para mostrar o caminho para que o sigamos. Isso é o básico. É claro que não sabemos tudo, porque a maioria dos que seguiram o caminho de Jesus era pobre. A maioria está no outro polo, na religião, ou seja, dedicando-se à doutrina, ensinando a doutrina, defendendo a doutrina contra os hereges e as heresias. Essa foi uma das grandes tarefas: praticar os ritos e formar a classe sagrada, a classe sacerdotal. Com os Concílios de Niceia e Constantinopla, já há um núcleo de ensino e de teologia e a Igreja já se dedica a defender, promover e aumentar essa teologia. Até Constantino não havia distinção entre pessoas sagradas e profanas. Todos eram leigos. O clero como classe separada é uma invenção de Constantino. Quando eu era jovem, nos deram ´história da Igreja´, que na realidade era ´ história da instituição eclesiástica´. Aí só se falava de religião, supondo que a religião fosse a introdução ao Evangelho. Mas o Evangelho se vive na vida real, material, social, enquanto a religião se vive num mundo simbólico. Tudo é simbólico: doutrina, ritos, sacerdotes. As religiões estão sempre associadas a uma cultura.
Pablo Richard
[Richard, Pablo. Movimento bíblico no povo de Deus e crise irreversível da Igreja hierárquica. Em: Hoornaert, Eduardo (org.). Novos desafios para o cristianismo: a contribuição de José Comblin. – São Paulo: Paulus, 2012, p. 30.]

0 22
Vasco Arruda

A geração que viveu com Jesus e a imediatamente seguinte conheceram e vivenciaram até o extremo o lado humano de Jesus. A sua humanidade impunha-se pela evidência dos fatos. Viram-no ou ouviram testemunhas imediatas do terrível da Paixão e morte, em que nada aparecia da face divina. Antes, pelo contrário, Jesus se mostra um largado e abandonado de Deus e do próprio poder que, em alguns momentos, manifestara. As provocações junto à cruz revelam essa tremenda tensão: “Os que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: “Ah! Tu que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo, descendo da cruz (Mc 15,29-30)”, e pela boca dos sumos sacerdotes: “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar. O Messias, o rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos (Mc 15,31s)!”. E ele mesmo revela, no Horto das Oliveiras, pavor, angústia, tristeza mortal, suor de sangue, necessidade da presença dos apóstolos, desejo de que o Pai lhe afaste o cálice (Mc 14,33-36; Lc 22,43), e na hora da morte, enorme abandono por parte de Deus (Mc 15,34). Que prova necessitava para afirmar a extrema humanidade de Jesus até as raias da fraqueza? Paulo, retomando um hino anterior, expressa tal evidência dizendo que ele renunciara a maneira divina de andar entre nós e assumira a forma de escravo, tornando-se igual ao ser humano (Fl 2,6-7).
J. B. Libanio . Carlos Cunha
[Libanio, J. B. Linguagens sobre Jesus: as linguagens tradicional, neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal / J.B.Libanio, Carlos Cunha. – São Paulo: Paulus, 2011, p. 27. = (Coleção Temas bíblicos; vol. 1)]

0 36
Vasco Arruda

É em Cristo que conhecemos Deus no que ele revela. Sem a revelação realizada em Cristo na história, não podemos conhecer nem mesmo nossa condição e realidade, vida e morte que nos envolvem.
Na ótica da problemática humana, Deus só pode ser revelado em relação com valores significativos para o ser humano, valores esses manifestados histórica e concretamente que possibilite ao homem aprofundar seu sentido e ampliar suas possibilidades. É essa a face de Deus qual Pai em movimento amoroso de encontro com os filhos (DV 5,21). Em Cristo e por Cristo, Deus se revelou plenamente à humanidade e se aproximou definitivamente de nós e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo o homem readquiriu plena consciência de sua dignidade, de sua transcendência e do valor de sua existência (RH 11).
Pe. Ângelo Pellá
[Pellá, Pe. Ângelo. Cristo, Resposta divina à condição humana: Cristologia para o Terceiro Milênio. 2ª. ed. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 1999, p. 33.]

0 21
Vasco Arruda

É evidente que o Senhor aceitou e assumiu as paixões naturais com o fim de consolidar a fé em uma encarnação verdadeira e não imaginária. Ao contrário, as paixões que existem em consequência do pecado e corrompem a integridade de nossa vida, ele as repudiou como indignas de sua divindade imaculada. Por isso o apóstolo Paulo escreveu que Cristo nasceu “na semelhança” de uma carne de pecado, e não em uma carne de pecado.
São Basílil, Epist. 261
[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 234.]

0 36
Vasco Arruda

O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida – porque a Vida manifestou-se: nós a vimos e dela vos damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava voltada para o Pai e que nos apareceu – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.
Primeira epístola de João, 1,1-4

0 29
Vasco Arruda

“Meu caro amigo alegro-me profundamente em ver-te. Estou contigo, quero falar-te e ouvir-te. Esteja certo de que estou realmente presente. Estou em ti. Fecha os olhos e teus ouvidos a todas as distrações. Retira-te para dentro de ti mesmo, pensa os meus pensamentos, fica a sós comigo.
Não tenhas receio. Eu sou o teu Deus, o teu rei de infinita majestade, de poder infinito. Mas sou também humano, como tu.
Sou o teu Salvador. Estás notando como me dirijo a ti? Chamo-te de meu amigo. Quando falo contigo, não te dou o nome de “criatura”, de “servo”, mas de “amigo”. Sim, e até mais que isso, tu és meu irmão, minha irmã, minha mãe. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Alegro-me que desejes vigiar um pouco comigo, confiar em mim e permitir-me confiar em ti.
Já pensaste no que te teria dito, se tivesses estado a meu lado como Pedro, João, Maria, Marta e como todos aqueles com os quais estive em contato durante a minha vida terrestre?
Pensas que eles foram especialmente favorecidos porque viveram naquele tempo, porque me viram, porque me ouviram, porque me tocaram?
Sim, eles foram favorecidos. Mas tu também o és. É melhor para ti viver agora do que em qualquer outro tempo da história. Não achas que esta é a minha hora do mesmo modo que há vinte séculos o foi? Vejo-te com a mesma clareza com que os via. Amo-te como os amei. Falo contigo como falava com eles. O que são os teus bons impulsos, senão a minha graça e as instâncias do Espírito Santo?
Mas, talvez, estarás dizendo para ti mesmo: eles vos viram face a face! O que foi que meus discípulos viram? Viram um homem. Um homem que operava milagres, mas apenas um homem. Alguns meses depois eles me conheceram como “aquele que há de vir” – o messias, e como “aquele que é” – Deus. E quando eles chegaram finalmente a me conhecer, não o foi por seus olhos corporais, mas pela fé. E não poderia ter sido de outro modo. Nenhum mortal pode ver a Deus face a face e continuar vivendo neste mundo.
É exatamente como tu me conheces hoje: pela fé. És, portanto, feliz e três vezes feliz. Feliz porque me vês com olhos mais seguros do que os olhos de tua natureza humana: com os olhos da fé.”
Clarence J. Enzler
[Enzler, Clarence J. Cristo minha vida. 33ª ed. – São Paulo: Paulinas, 2000, p. 9.]