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17. O Caminho da Individuação

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Vasco Arruda

Peregrinação é o tipo de jornada que estabelece a diferença entre o atento e o negligente, entre o banal e o inspirado. Essa diferença pode ser sutil ou dramática; por definição, ela é fundamental. Significa estar alerta para a ocasião, em que tudo o que se faz necessário numa viagem a um lugar remoto é tão-somente deixar-se perder a si próprio, e estar atento à ocasião, em que tudo o que é preciso é uma jornada a um lugar sagrado, com todos os seus aspectos gloriosos e temíveis para o encontro consigo mesmo. Desde o mais remoto peregrino humano, a pergunta mais desafiadora tem sido: como viajar de modo mais sábio, mais frutífero e mais nobre? Como podemos mobilizar a imaginação e animar nosso coração de forma que possamos, em nossas jornadas especiais, “ver em toda a parte do mundo a inevitável expressão do conceito de infinito”, nas palavras de Louis Pasteur; ou perceber, com Thoreau, “a divina energia em toda a parte?” Ou lembrando, como Evan Connell, de advertir os viajantes medievais: “Passe ao largo daquilo que não ama”.
Phil Cosineau
[Cousineau, Phil. A arte da peregrinação: para o viajante em busca do que lhe é sagrado. Tradução de Luiz Carlos Lisboa. São Paulo: Ágora, 1999, p. 23]

Vasco Arruda

A forma mais divina de conhecimento é aquela a que se chega por meio do conhecimento adulto, segundo a unificação que dá ensejo a que a capacidade da mente transcenda; quando a mente, separando-se de todas as coisas e, numa segunda fase, abandonando-se a si mesma, é levada pelo processo unitivo a unir-se aos raios de transcendente esplendor; e lá e cá, embora permaneça [ela mesma], submerge inteiramente na luz do abismo de Sabedoria, cuja profundidade não consegue indagar.

São Dionísio de Alexandria

[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 649.]

Vasco Arruda

Quando alguém chega à meia-idade, ou, melhor dizendo, ao meio da vida, em geral a existência desta pessoa está organizada em padrões psicológicos conhecidos, é como se ela estivesse protegida pela família e o trabalho. De repente acontece a crise: um dia a pessoa acorda e percebe que está sem gás; a posse e o controle sobre a própria vida soam inoperantes; o doce sabor da conquista parece amargo; os velhos padrões de atuação doem como calos nos pés. A habilidade de valorizar as próprias conquistas – os filhos, o trabalho, as posições de poder, as vitórias – parece ter sido roubada, e a pessoa fica se perguntando o que foi que lhe aconteceu do dia para a noite. Aonde teriam ido parar todas aquelas coisas que lhe davam segurança, paz e sossego?
Murray Stein
[Stein, Murray. No meio da vida: uma perspectiva junguiana. Tradução Paula Maria Dip. – São Paulo: Paulus, 2007, p. 15. (Coleção amor e psique).]

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Vasco Arruda

Resistimos à nossa trilha, ao nosso destino, por causa do medo. E nunca é demais enfatizar o medo e o tremor que podemos sentir quando recebemos o chamado para deixar para trás a segurança. Essa é, para a maior parte de nós, uma experiência assustadora: estamos desesperados para saber que as coisas vão dar certo, mas tudo o que conseguimos ver é o abismo. A jornada exige que nos desapeguemos dos fundamentos de quem fomos e do que temos acreditado sobre nós mesmos e sobre a vida. Queremos ter a certeza de que não seremos aniquilados pelo caminho.

Kathleen A. Brehony

[Brehony, Kathleen A. Despertando na meia-idade: tomando consciência do seu potencial de conhecimento e mudança. Tradução Thereza Christina F. Stummer. – São Paulo: Paulus, 1999, p. 45.]