Meu artigo publicado na edição de hoje (26/1/2012) do O POVO.

Ilustração de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Pinheirinho
Plínio Bortolotti

Duas mil famílias, seis mil pessoas, foram expulsas com violência de suas casas, em São José dos Campos (SP), em um bairro chamado Pinheirinho.

A Polícia Militar, apoiada por helicópteros e acompanhada de seu aparato bélico, fez o trabalho, escudada em uma ordem judicial, expedida pela juíza da 6ª Vara Cível de São José dos Campos. Cerca de dois mil policiais e guardas municipais iniciaram a ação às 6 horas de domingo passado.

O resultado pode ser visto nos jornais e TVs – e também pelas redes sociais da internet. Digitando “Pinheirinho” no Youtube, poder-se-á ter uma ideia de como se deu a expulsão dos moradores.

A área de um milhão de metros quadrados – que começou a ser ocupada há oito anos – pertence à massa falida da Selecta, uma empresa do “investidor” Naji Nahas (preso em 2008 na Operação Satiagraha) – e está avaliada em quase R$ 200 milhões.

É incompreensível o que se passa na cabeça de um juiz, no caso uma juíza, ao dar uma ordem dessas, aparentemente sem levar em conta as consequências de sua decisão. Desconhecimento da realidade? Arrogância? Inépcia? Falta de senso de justiça? Apego formal à lei?

Havia negociação em curso, incluindo representantes do governo federal, buscando uma saída pacífica – e havia um conflito de competência entre a Justiça federal e a estadual, o que recomendava cautela e um pouco de paciência. A Justiça estadual optou pelo uso da força, e muita.

Dito isso, revelou-se no caso Pinheirinho uma situação que se repete a cada polêmica, a cada conflito que se estabelece no país: um verdadeiro Fla-Flu. Exige-se alistamento automático e acrítico – e lança-se mão do argumento ad hominem (contra a pessoa) a qualquer um que questione qualquer “verdade” estabelecida por um dos lados.

A democracia tem dessas conseqüências: a tentativa de interditar o pensamento deixou de ser privilégio da direita.

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