No seu primeiro grande teste na televisão desde que assumiu o lugar de Lula na chapa presidencial do PT, Fernando Haddad deixou claro o tom que pretende adotar de agora em diante na campanha: deixar Jair Bolsonaro (PSL) de lado e centrar fogo no PSDB.
Exposta durante sabatina no “Jornal Nacional” na noite desta sexta-feira, a estratégia tem lá seu fundo de razão.
O PT não disfarça a avaliação de que, para o ex-prefeito de São Paulo, o melhor candidato a enfrentar num segundo turno é o militar. Mais rejeitado, Bolsonaro só venceria um adversário nessa fase das eleições: o próprio Haddad.
Das principais críticas do presidenciável petista, a maior parte se dirigiu ao também candidato Geraldo Alckmin e ao concorrente ao governo de São Paulo e sucessor de Haddad na Prefeitura João Dória, ambos tucanos.
O fato curioso: Haddad fez largo uso de trechos de entrevista concedida pelo senador Tasso Jereissati (PSDB) ao Estadão nessa quinta-feira.
Nela, o tucano cearense faz autocrítica do partido e diz que foi um erro participar do governo de Michel Temer (MDB) após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Tasso é um prócer do PSDB. Ex-presidente da sigla, preside o Instituto Teotônio Vilela, braço formativo da legenda. É senador e ex-governador do Ceará. Como se diz, é um tucano de alta plumagem.
A menos de um mês da votação, tudo que falou tem um potencial de estrago muito grande na campanha de Alckmin, que já não vai bem das pernas por si mesma.
O substituto de Lula sabe disso e resolveu tirar casquinha da confusão. De acordo com Datafolha divulgado hoje, o nome do PSDB oscilou negativamente, passando de 10% para 9%.
Ainda está no páreo, mas a uma distância crescente de Ciro Gomes (PDT) e de Haddad, empatados com 13%.
A permanecer nesse ritmo, no entanto, vai derreter, exatamente como já vem acontecendo com Marina Silva (Rede), que perdeu mais três pontos e caiu de 11% para 8%.
Nessa hipótese, para onde vão os votos de Alckmin?
Não é que Haddad pretenda virar essa preferência a seu favor. Mas, dentro da estratégia traçada, Ciro está bloqueado à esquerda – no Nordeste, reduto petista, o presidenciável do PDT caiu dois pontos – e à direita por Bolsonaro e o tucano.
Resta Alckmin, que, apesar de não ter decolado e de haver sérias dúvidas se de fato vai alçar voo em algum momento, ainda é o dono da maior fatia de tempo de propaganda na TV e no rádio.
A lógica petista é a seguinte: o inimigo real não é Ciro, mas o ex-governador de São Paulo. Se a tese vai se mostrar bem-sucedida como estratégia eleitoral, são outros quinhentos.
Assista à sabatina do candidato Fernando Haddad (PT) à Presidência:
Fernando Haddad, candidato à Presidência, concede entrevista ao Jornal Nacional https://t.co/R9pNJJwRUd
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) September 14, 2018