Presidenciável Ciro Gomes está empatado com Fernando Haddad (PT) em pesquisa Datafolha (Foto: Fábio Lima/O POVO)

Diferentemente das análises mais pessimistas feitas a partir do resultado do Datafolha, o jogo ainda não está perdido para o presidenciável Ciro Gomes (PDT).

O ex-governador do Ceará se manteve no mesmo patamar de 13% na preferência do eleitorado durante a semana e viu o rival Fernando Haddad (PT) encostar no último levantamento de intenção de voto do instituto, divulgado nessa sexta-feira.

Primeiro, é preciso lembrar que o salto de Haddad num primeiro momento era esperado.

Talvez não com essa velocidade, mas já se supunha que ele cresceria rapidamente na esteira do capital político do ex-presidente Lula, sobretudo a reboque de sua votação no Nordeste.

Ocorre que esse impulso inicial do petista é limitado e, após certo tempo, tende a se estabilizar.

A Ciro, então, cumpre esperar que a poeira se assente, mantendo a artilharia contra Haddad e Geraldo Alckmin (PSDB), cujo desempenho vem “marinando”, ou seja, despencando, e de quem é possível fazer migrar um voto útil.

A favor do ex-governador do Ceará estão, primeiro, a baixa rejeição e as projeções de performance no segundo turno – ainda segundo o Datafolha, Ciro venceria todos os adversários numa disputa direta.

E, depois, o sentimento antipetista. Bom, mas Ciro vem defendendo Lula publicamente, não é?

Sim. Até ontem, pelo menos. Não se sabe se daqui pra frente vai manter essa postura de equilibrista, que critica o PT e fustiga Haddad para, no instante seguinte, acarinhar Lula.

Afinal, ou Ciro é candidato antilulista ou é lulista. Não pode desempenhar os dois papéis ao mesmo tempo. Esse é o seu grande dilema.

Como é difícil concorrer com o nome ungido por Lula, principalmente nos estados nordestinos (Ciro caiu dois pontos porcentuais na região), o cearense corre o risco de ficar pelo caminho ao não se decidir se disputa votos na centro-esquerda ou se, numa correção de rumo, se desloca para a centro-direita.

Mas o ideário de Ciro não é de esquerda?

Bom, até é, mas, não faz tanto tempo, o candidato se sentou pra discutir uma possível aliança com os partidos do “centrão”, num dos seus tantos cavalos de pau desde o início da campanha.

Dada a sua maleabilidade ideológica, não seria novidade, e nem haveria tanta dificuldade assim, se o pedetista repaginasse o seu discurso mais uma vez, agora acenando ao voto antilulista que rejeita Alckmin e procura alguém capaz de derrotar Bolsonaro no segundo turno.

O ex-ministro vai conseguir isso?

É outra questão em aberto ainda. Numa campanha curta, a equipe do pedetista tem de processar rapidamente os resultados que os dois levantamentos produziram: Ciro parou de crescer e Haddad está em franca ascensão.

Adicionalmente: Marina já era. E Alckmin está no volume-morto.

Considerado esse cenário, e diante da dificuldade de alavancar sua preferência contra a força de Lula e sua imagem explorada à exaustão por Haddad, resta ao presidenciável uma tarefa importante.

Reocupar o caminho do centro, que se esvaziou novamente depois da queda da candidata da Rede e do recuo do tucano. Se a esquerda congestionou, a via central se abriu.

É lá onde está a avenida para Ciro trafegar.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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