A confirmação de que Fabiano dos Santos Piúba segue secretário da Cultura do Ceará no segundo governo Camilo Santana (PT) é uma obviedade que se rende à evidência de que, após quase uma década de desencontros, ele levou paz à secretaria. Desde que Cid Gomes assumiu o governo, em 2007, e Cláudia Leitão deixou a Secult, a confusão política e os desencontros administrativos se instauraram.

Piúba trouxe um pouco de paz a pasta atribulada

Piúba trouxe, primeiro, estabilidade à pasta. Também conduziu planejamento, estabeleceu diretrizes. Passou a haver uma política de cultura clara e colocada em prática. Pode parecer pouco. Diante do histórico recente, é quase uma revolução.

No primeiro mandato de Cid, o secretário foi Francisco Auto Filho (PT). Sua prioridade foi uma “constituinte da cultura” e ficou mais preocupado com diretrizes macro que com o cotidiano das políticas públicas. A prioridade foi da reflexão e do debate, o que é fundamental. Mas, faltou ação. Além disso, os anos de Auto foram de turbulência política. Houve atritos em particular com Arialdo Pinho, que era todo-poderoso chefe da Casa Civil. O que não facilitou as coisas para a Secult.

Segundo mandato

O primeiro mandato de Cid na Cultura foi bem ruim e o segundo mandato conseguiu piorar muito. Foi indicado para a Secult Francisco Pinheiro (PT), que havia sido vice-governador. Com um mês no cargo, ele se afastou para assumir mandato de deputado estadual, que estava ameaçado por pendenga jurídica. Pinheiro só se tornou secretário, para valer, em agosto de 2011. Nos seis meses anteriores, Maninha Morais comandou a pasta interinamente.

Em junho do ano seguinte, a barafunda chegou ao ápice. Pinheiro foi substituído pelo suplente de deputado Antonio Carlos Freitas (PT), que era líder do governo Cid Gomes na Assembleia Legislativa. Tratava-se de manobra que nada tinha a ver com cultura.

Cid queria influenciar a escolha do candidato a prefeito que teria apoio de Luizianne Lins (PT). Assim, três de seus secretários se desincompatibilizaram para ficarem como opções para Luizianne. Foram eles Camilo Santana (PT), então secretário das Cidades e hoje governador; Nelson Martins (PT), que comandava o Desenvolvimento Agrário; e Pinheiro. Com o gesto, Cid dizia que qualquer dos três seria boa opção e teria seu apoio. Para não correr o risco de Luizianne escolher Antônio Carlos – ligado à então prefeita e líder de Cid – o governador o colocou na Secult, deixando-o inelegível.

Nenhum deles foi escolhido e Cid acabou lançando Roberto Cláudio a prefeito de Fortaleza – que sairia vitorioso. Seis dias depois a nomeação de Antônio Carlos para a Secult, ele disse que deixaria o cargo, via torpedo. O motivo foi a decisão da base do governador de lançar a candidatura de Roberto Cláudio. No começo de julho, Camilo, Nelson e Pinheiro voltaram aos cargos.

Novas turbulências

Em setembro de 2013, Pinheiro saiu de vez e assumiu o cargo o jornalista Paulo Mamede. Ao final da gestão, traçou panorama desolador em que assumiu. Houve avanços, mas os 15 meses não foram suficientes para transformar o quadro de descaso sistêmico.

No começo do governo Camilo, o cargo foi entregue ao vereador Guilherme Sampaio (PT), que ficou por 13 meses e pediu exoneração em fevereiro de 2016. “Esta decisão é motivada por minha convicção pessoal, consolidada ao longo dos últimos meses, de que o ousado programa apresentado pelo governador exige uma Secretaria forte, autônoma e com autoridade necessária para a execução desta tarefa, o que não vejo em perspectiva”, disse em nota. Foi quando Piúba, que era secretário adjunto, assumiu o cargo.

Um pouco de paz e resultado já seria motivo para Piúba ficar, diante do histórico tão atrapalhado. Com menos de dois anos, há trabalho consolidado, boa base para projetar os próximos quatro anos.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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