Além do novo vírus, determinadas palavras chegaram à vida das pessoas, algumas delas em suas versões estrangeiras

Desde os primeiros registros do novo coronavírus no mundo, em dezembro de 2019, em Wuhan, na China, certas palavras passaram a marcar presença na vida das pessoas. Diariamente, noticiários, mídias sociais e aplicativos de troca de mensagens passaram a citar vocábulos como coronavírus, covid-19, pandemia, lockdown e outros. Por e-mail, o Giro Lusófono, blogue d’O POVO Online, conversou com especialistas para descobrir quais as formas corretas de grafar essas palavras e entender o porquê de algumas delas serem utilizadas em suas versões estrangeiras.

De acordo com o professor de Língua Portuguesa do Colégio Pensi (RJ), Diego Dias, a palavra coronavírus é masculina sem terminação marcadora de plural. “Por ser um substantivo comum, isto é, palavra que designa genericamente, sem especificar, seres da mesma espécie que partilham características comuns, é escrito com letra minúscula. (…) A palavra faz alusão – pelo formato do vírus – ao termo ‘coroa’, também substantivo simples e, por isso, grafado com letra minúscula. Além disso, percebemos que a palavra não é separada por hífen ou por espaço. O termo é único, escreve-se tudo junto, em um só vocábulo. Cabe ressaltar que só usaremos a palavra coronavírus com inicial maiúscula se ela estiver alocada no início de uma frase”, afirma o professor.

Já covid-19, segundo Dias, não é o nome do vírus, e sim o nome da doença causada pelo vírus. “Por conseguinte, é uma palavra feminina: a covid-19”, esclarece, detalhando que, por sua origem, a palavra ‘COVID’ é uma junção das iniciais de alguns termos da língua inglesa: CO (corona); VI (virus); e D (disease). O número 19 faz alusão ao ano de 2019, em que o vírus foi descoberto. “Logo, pode ser tratada como sigla – iniciais maiúsculas – ou como substantivo que incorpora o nome da doença – com letras minúsculas”, explica o professor. Vale lembrar que o nome do vírus vai no masculino: “o coronavírus” e o nome da doença vai no feminino: “a covid-19”.

Já outras palavras que também têm ganhado destaque em meio à pandemia preservam suas versões estrangeiras. Segundo o professor e mestre Mário Pires de Moraes, esse fenômeno acontece devido às novas dinâmicas de comunicação humana. “Usamos palavras estrangeiras simplesmente por nem sempre ser necessário haver uma tradução, uma vez que a palavra, escrita e pronunciada em seu idioma de origem, é suficientemente capaz de gerar sentido para as pessoas. A palavra surge em um determinado contexto, como lockdown, por exemplo, há um rápido período de estranhamento, as mídias passam a atribuir sentido àquela palavra e logo ela já passa a fazer parte da fala cotidiana”, contextualiza Moraes.

Na visão dele, quando uma palavra estrangeira tem um correspondente capaz de gerar sentido no português dentro do mesmo contexto, como a troca de “call” por “chamada” ou “ligação”, os próprios falantes vão fazendo suas opções linguísticas. Contudo, há casos em que esse correspondente não é necessário, e as pessoas seguem utilizando a palavra estrangeira que, rapidamente, pode ser incorporada à língua, como é o caso clássico de delet, que virou o verbo “deletar”.

Confusões iniciais
O professor Mário explica que é normal haver confusão nos primeiros dias após a repentina chegada de determinadas palavras que antes não eram habituais, como ocorreu com o surgimento do novo coronavírus. “É a confusão natural de quando uma palavra está sendo acrescentada em nosso dicionário particular. É, aliás, o mesmo que percebemos nas crianças durante a fase de aquisição de língua, ou seja, quando ela está aprendendo e aplicando regras linguísticas (comi, bebi, ‘fazi’). Sempre que nosso léxico se expande, a gramática também se reorganiza em nossa mente, e isso envolve o uso dos determinantes, das conjugações, das relações sintagmáticas… enfim, tudo que envolve uma mudança, de qualquer tamanho, no uso da nossa língua materna”, afirma o professor.

Como se escreve?
O professor de Língua Portuguesa do Colégio Pensi (RJ), Diego Dias, descreveu a maneira indicada para se grafar as principais palavras que estão envolvidas no contexto da pandemia de covid-19. Segundo ele, algumas palavras preservam suas versões na língua estrangeira devido ao processo da Globalização. “Esse fato pode ser comprovado, inclusive, na maneira como falamos e incorporamos determinados termos do inglês, por exemplo. O ideal é fazer uma adaptação dos termos para vocábulos semelhantes em sentido ao nosso idioma. Assim, preservamos a nossa identidade linguística. (…) Porém, não podemos negligenciar que a língua inglesa já convive diariamente com o nosso idioma”, comenta o professor.

Epidemia
– “Epidemia” é um termo usado quando há um surto de uma doença em várias regiões de um país, por exemplo. Uma epidemia pode ser municipal, estadual ou nacional. É o que acontece com a dengue em nosso país.

Pandemia
– Pandemia” é uma escala mais grave de disseminação de uma doença, pois ela se estende a níveis mundiais, entre continentes, como é o caso da covid-19.

Endemia
– “Endemia” não está relacionada a fatores quantitativos e sim na frequência de determinada doença em uma localidade. É o caso da febre amarela, típica da região norte do Brasil.

Lockdown
– “Lockdown” pode ser substituído por “bloqueio total” ou “confinamento”, uma vez que é um protocolo de isolamento que impede que pessoas deixem ou acessem determinada área.

Delivery
– “Delivery” pode ser substituída com facilidade pelo termo “entrega”.

Home office
– “Home office”, por alusão, será o “escritório em casa”.

Call

– “Call” são as populares e frequentes chamadas da empresa ou entre amigos.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Elves Rabelo

Jornalista, pós-graduado em Assessoria de Comunicação e, atualmente, atua em Comunicação Institucional. . Sugestões de pauta: elvesarabelo@gmail.com

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