As sete crônicas de Natal – 6

Baltazar era mouro[1], de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia. Seu nome significa Deus manifesta o Rei, levou para o Menino a quem o conduziu a estrela, mirra.

Peregrinamos para Belém, a casa do pão, mas não estamos só e aqui não nos referimos á presença do peregrino Árabe, falamos de milhares de pessoas que perfazem o caminho a busca do Rei.

Jesus o Filho de Deus que se encarnou no meio de nós veio não exclusivo a um povo ou raça, mas veio para todos. Sua salvação não se encontra restrita, é universal. Ao longo da história muitos se puseram a caminhar, hoje ainda mais pessoas procuram encontrar-se com a verdade muito embora procurem às apalpadelas, como afirma o Apóstolo (At 17,11).

Baltazar representa uma civilização antiga e nos remete a todos aqueles que ainda não participam da comunhão com a Igreja de Nosso Senhor. Cristo exerce o seu fascínio sobre todos e seu desejo é para que todo homem esteja no mesmo redil, sob o domínio de um só pastor.

Constatamos no mundo a existência de mais de quatro bilhões de pessoas que não conhecem a fé em Jesus Cristo. Um número que nos deixa inquieto e que nos faz pensar sobre nossa missão evangelizadora e missionária. É certo que o Senhor, em sua infinita bondade continua em reluzir o brilho da estrela na consciência destes bilhões de pessoas e faz espalharem-se as sementes do verbo. Mas isto de modo algum dispensa nosso mandato de Ir a todo mundo e fazer todas as nações discípulas do Senhor.

Ao peregrinar com Baltazar recordemos do episódio encontrado nos Atos dos Apóstolos no qual Felipe encontra-se com um eunuco, servo da rainha da Etiópia, que lia as Escrituras antigas, mas nada entendia, ao ser interpelado se compreendia aquilo que lia respondeu a Felipe: “Como o poderia, disse ele, se alguém não me explicar?” (At 8,31). Felipe anunciou-lhe a Boa Nova, o batizou e diz o Sagrado texto que o Eunuco prosseguiu sua jornada alegremente.

Ainda nos interpela a passagem do macedônio, personagem querido e citado por nosso fundador que fala sobre missão e evangelização. Paulo certa noite teve a visão de um Macedônio que lhe dizia: “Vem para a Macedônia, e ajuda-nos” (At 16,9), vendo ali um sinal de Deus Paulo dirigiu-se à Macedônia para levar o anúncio da Boa Nova.

Baltazar, o Eunuco e o Macedônio, três pessoas distintas, oriundas de cultura e regiões diversas, entanto com um mesmo desejo, experimentar a salvação que vem de Deus, mesmo que não o soubessem em primeira hora. Estamos cercados de Eunucos e Macedônios e o que temos feito? Paremos um pouco nossa jornada e nos lembremos das pessoas que evangelizamos neste ano.

Quantos foram os eunucos e Macedônios que abordamos e anunciamos a Boa Nova? Como se deu o processo de evangelização destes irmãos? Nos comprometemos com suas vidas? Fomos presença e sinal de esperança até poderem ter feito sua experiência com o Ressuscitado que passou pela Cruz? Podemos alargar a reflexão e rezar com o tema evangelização e parresia. Temos sido ousados e conduzidos pelo Espírito Santo no anúncio?

Retornemos ao nosso peregrino-guia e lancemos o olhar para o presente que levava para o Menino Deus. “A Mirra é um árvore espinhosa, de folhas caducas, que pode atingir 5 metros de altura, com flores vermelho-amareladas, e frutos pontiagudos, A palavra mirra origina-se do hebraico maror ou murr, que significa ‘amargo’.”[2]Na época de Jesus era um presente que se dava aos profetas.

A mirra possui também o significado especial que remete à humanidade de Jesus, Ele não se prevaleceu de sua condição Divina (Cf Fl 2), fez-se um de nós, encarnou-se, o que é ainda inconcebível pra milhares de pessoas que rechaçam atitude tão humilde para Deus. Mas foi isto que Ele fez inclinou-se até nós.

Jesus é o profeta do Pai, ainda um pouco e profetizou o velho Simeão que seria uma causa de contradição para muitos (Cf: Lc 2,32). Jesus ao encarna-se toma o cálice da Mirra que significa também a vontade de Deus abraçada com prazer (Hb 10,9). Jesus cumpre em tudo a santa vontade do pai.

A sombra da cruz já se pode vislumbrar na gruta de Belém, escreve Bento XVI em seu livro Jesus de Nazaré. A mirra nos lembra também da paixão que viverá nosso Senhor e já nos diz algo sobre sua morte. Prefigura o embalsamamento de seu corpo “Acompanhou-o Nicodemos (aquele que anteriormente fora de noite ter com Jesus), levando umas cem libras de uma mistura de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com os aromas, como os judeus costumam sepultar” (Jo 19,39-40).

Crenças antigas associavam o embalsamamento com mirra à imortalidade, esta nós sabemos só Cristo logrou com sua Ressurreição, vencendo a morte e formando deste modo o corpo do anúncio da Boa Nova, paixão, morte e ressurreição.

Com Baltazar acorramos ao Profeta dos profetas, Aquele que veio testemunhar o amor do Pai para todos. Na mistura da mirra coloquemos nossas dores, desafios e sofrimentos e caminhemos ao encontro do Menino, nosso Salvador e Redentor. Deitemos nossa humanidade nesta santa mistura e deixemo-la ser curada e redimida pela humanidade de nosso Senhor.

 


[1] Os mouros (também chamados de mauros) são um povo árabe-berbere que conquistou a Península Ibérica, oriundos principalmente da região do Saara ocidental e da Mauritânia. >>pt.wikipedia.org/wiki/Mouros <<

[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Mirra

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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