Chegamos a mais um Natal. Somos chamados a lançar nosso olhar para a casa de Belém (Cf. Mt 2,11) e lá encontrar o Menino, com Maria sua mãe. Naquela cena eloqu ente contemplamos o Filho primogênito de Deus que se despojou de sua glória (cf. Fil 2,7).  Aquele por quem tudo foi feito e sem o Qual nada existiria (Cf Jo 1,3), o  vemos deitado nos braços da Virgem que por sua vez cumpre a profecia de Isaías, “eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho (Is 7,14).”

O que ainda é impensável de se conceber  para milhares de pessoas  de outras religiões aconteceu ,Deus se encarnou, “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Mas, para que Deus se encarnou? poderíamos pensar. Ora, tendo acabado a obra da primeira criação o homem usando de sua liberdade afastou-se de Deus. Seduzido pela serpente que ofereceu-lhe o proibido enquanto retirava-lhe o concedido distanciou-se da convivência amorosa com o Pai.

Despiu-se o homem de sua filiação Divina, embrenhou-se nas trevas que o tragaram impiedosamente deixando-o entregue à sua própria mercê. Contudo, neste cenário árido de desolação, Deus rico em Misericórdia, não põe limites ao seu amor. Ele, capaz de permutar reinos por nós (Cf Is 43,4) concede o Dom mais precioso, seu único Filho como atesta o evangelista João “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único”.

Cristo Jesus faz-se um de nós ao se encarnar, resgata nossa humanidade e devolve-nos a esperança de um dia participarmos da Glória do pai desde já presente Nele (Cf jo 1,14 ). Em Belém, que significa ‘casa do pão’, temos Aquele que é o Pão da Vida, o Senhor que nos dará sua própria carne e sangue como alimento para a vida eterna. (Cf Jo 6,35)

Na pobreza de Belém devemos enxergar nossa pobreza; na escuridão de Belém também a nossa. Neste lugar pequeno e pobre, feio e desmerecido quis nascer o Salvador, “Em sua pobreza, veio para oferecer a salvação aos pecadores. Aquele que – como nos recorda São Paulo –  «sendo rico, fez-se pobre por amor a nós, para que fossemos ricos por sua pobreza» (2Cor 8,9). Como não dar graças a Deus por tanta bondade condescendente?” (Papa Bento XVI).

No livro Jesus de Nazaré, o Papa Bento XVI de forma magnânima escreve que, em Belém já se pode entrever a sombra da cruz. A encarnação do verbo encontra seu ápice no Mistério pascal cuja ação é salvar o homem todo, “Quem poderia ter inventado um sinal de amor maior? Permanecemos extasiados ante o mistério de um Deus que se humilha para assumir nossa condição humana até se imolar por nós na cruz (cf. Fil 2, 6-8), (Papa Bento XVI). ”

No Natal temos a oportunidade de abrir o nosso coração e fazer quedar nossa mentalidade envelhecida para dar lugar a uma nova, iluminada e guiada pela Luz da Verdade que veio até nós. O estulto Herodes assoberbado e apegado aos bens desta terra assombrou-se com a profecia na qual asseverava a vinda do Messias, pensando está vivo ao mandar matar aquele que tinha por ameaça, estava na verdade mais morto dos que todos que foram fulminados por sua fúria. No entanto permaneceu no meio de nós para sempre o Vivente, Cristo Jesus.

Deus inclinou-se até nós para que não tivéssemos medo da onipotência Divina. No Antigo Testamento Deus era concebido como o Temível, o Senhor Terrível, até seu nome não era pronunciado. Em Jesus fomos todos feitos filhos adotivos, resgatados pelo seu imenso e infinito amor do qual nada pode nos separar. Pela Encarnação foi sanado o hiato que havia entre nós e Deus.

Por esta época encontramos as pessoas sensibilizadas, um pouco mais atentas, menos indiferentes, estamos diante de um terreno propício a receber a semente do anúncio. Quando nos omitimos o mundo degusta a alma destes nossos irmãos usando do materialismo, consumismo e sentimentos de tristezas que se levantam como vagas destruidoras minando os mais puros desejos de mudança de vida.

O homem tem sede de Deus e o deseja mesmo que não o saiba. Aqui está a explicação para o clima ameno que remete à busca dos mais sinceros votos de felicidade que envolve as pessoas. A luz da estrela que brilhou para os Reis magos avulta-se em cada consciência no ensejo de conduzir o homem até Belém e lá encontrar Maria e José num silêncio incomum impetrado numa atmosfera de alegria e adoração ao Menino Deus.

Temos a missão, como Luz do mundo, de brilhar nosso clarão e conduzir àqueles que nos foi confiado ao encontro com o Doce abaixar-se de Deus. Cada pessoa precisa experimentar a salvação que trouxe Nosso Senhor, para isso é indispensável adentrar a casa de Nazaré. A Capela na Natividade em Nazaré possui uma porta bem estreita donde para entrar é preciso abaixar-se. Isto é um simbolismo que nos descreve a necessidade de nos despojar de tudo que é supérfluo a fim de adentrar o mistério do Natal.

No ícone da Natividade podemos observar a figura de dois animais, um boi e um asno que estão por detrás da manjedoura, seus olhares estão perdidos e não estão voltados para o centro da peça, O Menino Deus. Eles representam os que mesmo diante do mistério não querem enxergá-lo. O boi representa o culto ao ídolo Mitra e o asno á luxúria, ainda significam as forças instintivas irracionais que emergem das profundezas da alma humana e levam ao pecado.

Diante deste mistério inaudito temos a missão de perscrutá-lo e levar tantos quanto pudermos a adentrar a casa do pão e no silêncio bendito calarmos todas as vozes que rugem em nosso interior cujo maior interesse é nos dispersar e nos confundir. À noite bendita estejamos preparados, cheios de esperança e júbilo expectante no Deus que nos ama incondicionalmente.

O bimbalhar dos sinos nos reanime o entusiasmo e o desejo de nos entregar totalmente e radicalmente ao Deus Menino como o fizeram Maria e José colocando-se a inteiro dispor e submissão de seu Deus e Filho. Com os magos entreguemos o ouro de nossa existência, o incenso de nossas orações e a mirra de nosso sofrimento; com os pastores entoemos o louvor que só os filhos por ele amados o podem fazer.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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