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A subcultura cyberpunk está representada no novo cinema cearense. Exibido no 26º Cine Ceará e selecionado para o Festival do Rio 2016, o curta-metragem Janaina Overdrive (2016), de Mozart Freire, se apropria do universo fundamentado nos anos 1980, por autores como Bruce Sterling e William Gibson, para mostrar que há espaço na ficção-científica para as discussões sociais.
No Cine Ceará, o filme, realizado como trabalho de conclusão de curso de Realização Audiovisual da Vila das Artes, venceu o prêmio especial Olhar Universitário de Melhor Curta. Já a estreia do diretor, Cinemão (2015), foi eleito Melhor Curta pela Mostra Olhar do Ceará.
Quando a ciborgue transexual vivida por Layla Kayã Sah descobre que o progresso tecnológico ameaça sua existência, ela parte em busca de informações que possam ajudá-la a transcender o plano físico. De cara, a heroína de Mozart estabelece os lados. Sociedade e Governo, aqui representado pela Corporação e sua tentativa de controle biotecnopolítico.
Com as acertadas direção de arte, que Freire assina com Jônia Tercia, e fotografia, de Daniel Pustowka, o cineasta escancara o niilismo de uma Fortaleza hi-tech marginalizada. Para isso, a produção contrasta uma realidade de pobreza com tecnologia. Há ainda a trilha sonora do duo eletrônico Intuición, que ajuda a construir a cybercultura em torno da narrativa, bem como a inventiva presença de Graco Alves e a imagem noir de Euzebio Zloccowick (1980-2016).
É interessante notar a irreverência da produção ao dialogar com a realidade local. Uma das primeiras cenas do filme, com a banda tocando ao fundo, lembra a tradicional festa fortalezense Dança das Sombras, com indivíduos que transitam entre a chamada normalidade e a necessidade de se expressar diferentemente do que está imposto. Em outro momento, ciborgues aparecem deitados em redes. Coisa de cearense.
A transciborgue é, essencialmente, um grito de rebeldia e resistência. A modelo ultrapassada entende que é preciso bradar emponderamento para superar as dificuldades sociais, mesmo quando não há muita esperança. Mas para Janaina, as possibilidades existem. E precisam ser exploradas.
Cotação: 6/8
Originalmente publicado pelo blog Repórter Entre Linhas. O texto foi adaptado.
Janaina Overdrive (2016, BRA). Ficção. 19 minutos. 18 anos. De Mozart Freire. Com Eusébio Zloccowick, Layla Kayã Sah e Graco Alves.
Filme exibido no 26º Cine Ceará e no Festival do Rio 2016.
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