Os últimos anos vêm sendo favoráveis para os filmes adolescentes. Mas esqueça a bebedeira, as farras e os problemas de primeiro mundo. Em filmes como “Eu, você e a garota que vai morrer”, “King Jack” e “Um Deslize Perigoso”, a vida dos jovens passa por reviravoltas. Em todos, o amadurecimento ao final do longa é uma consequência inevitável. Lançado em 18 de novembro pela Netflix, o francês “Divinas” se apresenta como mais um exemplo competente da atual tendência.

Um trunfo de todos os filmes supracitados é a escolha por protagonistas interessantes, cujas personalidades vibram em tela. O aborrecido Mason, de “Boyhood”, não faz parte desse grupo. Em “Divinas”, as protagonistas Dounia (Oulaya Amamra) e Maimouna (Déborah Lukumuena) moram em uma região pobre de Paris, longe do centro urbano. Fora da escola e em busca de oportunidades de fazer dinheiro rápido, as duas passam a integrar o grupo da traficante Rebecca (Jisca Kalvanda).

Em um período marcado pela segregação e o medo da religião muçulmana, a escolha de colocar as protagonistas como seguidoras do credo é ousada. A forma com a qual o assunto é abordado em cena, no entanto, foge de causar polêmicas, se mesclando ao cotidiano das moças, sem se tornar o foco da ação.

Trazendo também a iniciação da vida sexual de Dounia, o filme explora bem os conflitos de uma adolescente em situação vulnerável. Ao recorrer ao mundo do crime, Dounia ignora por completo a ação do Estado em sua vida. As instituições públicas são apresentadas como distantes das comunidades. Essa constatação permeia toda a trama, até culminar no desesperador clímax do longa.

Com poucos trabalhos em seu currículo, Oulaya surpreende em sua performance. Sua Dounia é, ao mesmo tempo, rebelde, arrogante, gentil e piedosa. Apesar de desempenhar um bom trabalho, Lukumuena pouco sai do clichê de “amiga muito louca”. Mas o resultado é positivo, dadas as situações enfrentadas pelas protagonistas.

Com atrizes carismáticas e uma história envolvente, ainda que previsível, “Divinas”, premiado com o “Câmera de Ouro” no Festival de Cannes 2016, se coloca como um bom filme de amadurecimento. A história das jovens mostra como a chegada à idade adulta pode ser difícil, ainda mais para pessoas em situação vulnerável.

Cotação: nota 6/8

Ficha técnica
Divinas (FRA, 2016), Uda Benyamina. Drama. 105 min. Com Oulaya Amamra e Déborah Lukumuena

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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