Lançado pela Netflix em 2016 sob relativo alarde do público e da crítica, o documentário “Hot Girls Wanted” pega como mote principal a indústria pornográfica voltada para atrizes iniciantes. Sem experiência alguma no ramo e com idades entre 18 e 21 anos, o filme mostra as jovens ingressando em um mundo de ganhos rápidos, mas que rapidamente se mostra uma ilusão.

Em busca de expandir a premissa iniciada no documentário, as realizadoras Jill Bauer, Ronna Gradus e Rashida Jones (esta última do seriado “Parks and Recreation) partem para além da indústria pornográfica em “Hot Girls Wanted: Turned On”, uma série documental também disponibilizada pelo serviço de streaming. Nos seis episódios, temas como feminismo dentro do pornô e relações pessoais por meio de aplicativos são abordados.

Um dos aspectos fundamentais para a boa qualidade da produção reside na presença de mulheres por trás da realização. Por se tratar de uma indústria em que a esmagadora maioria do conteúdo é feita e pensada para homens héteros, é importante uma produção que apresenta os bastidores de tal universo mostrar um olhar alternativo para um ramo tão lucrativo. Para tanto, as realizadoras utilizam poucos personagens em cada episódio. Por mais que a escolha acabe não abrangendo de forma quantitativa os temas abordados, as pessoas cujas histórias são relatadas conseguem exemplificar de forma competente as discussões centrais de cada episódio.

Novata e recrutadora nos primeiros dias de trabalho.

Por trás das telas de site como Pornhub e Xvideos é impossível saber o que se passa durante a realização das cenas pornográficas. Tal como a produção de qualquer filme, a realização de uma obra desse gênero necessita de horas de preparo e repetições de cena. Sem sexualizar em momento algum as situações apresentadas, uma escolha acertada, a série consegue deixar uma sensação de incômodo no espectador, ao mesmo tempo em que humaniza os atores participantes.

Já em três episódios, a série se afasta das produções profissionais e se foca em aspectos como o relacionamento de um homem de 40 anos e o Tinder. Despreocupado com as mulheres que conquista todas as noites, o episódio ilustra a efemeridade dos usuários de serviços do gênero, que podem ser ignorados e trocados por outra pessoa com um deslizar na tela. Em outro momento, o seriado aborda a relação de amizade e pagamento entre um homem na Austrália e sua camgirl favorita nos Estados Unidos. No episódio final, se acompanha a história de uma menina russa que filmou o estupro da própria amiga e o transmitiu ao vivo via Periscope.

Holly e Suze Randall, mãe e filha, ambas veteranas diretoras da indústria pornô

Como unidade, os seis episódios abordam temáticas em excesso, deixando a sensação de que as discussões são abordadas de forma superficial em alguns momentos. Contudo, a qualidade da produção consegue superar esse defeito. Sem ser explícita, mas sendo crua ao mesmo tempo, “Hot Girls Wanted: Turned On” é daquelas séries que podem fazer o espectador refletir um pouco mais acerca dos produtos que consome, mas sem jamais soar apelativa nesse processo.

Disponível na Netflix.

 

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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