Em meados de 2009, com Obama recém-eleito e uma guerra no Afeganistão se arrastando oito anos após o 11 de setembro, o estresse do governo estadunidense era alto. Suas tropas não faziam a suposta pacificação que buscavam dentro do Oriente Médio, nem traziam os resultados esperados da ocupação. Dentro deste contexto, o general Glen McMahon, interpretado por um afetado e grisalho platinado Brad Pitt, acredita poder reverter a situação em favor dos Estados Unidos.
Baseado em fatos reais, “War Machine” é a primeira grande aposta cinematográfica da Netflix em 2017. Com um nome de peso liderando o elenco e com David Michôd, um diretor com filmes competentes como “A Caçada” e “Reino Animal” no currículo, o novo lançamento do serviço de streaming certamente possuía as ferramentas necessárias para realizar uma obra de respeito. O que surge em tela, no entanto, é uma fusão bizarra de gêneros que transitam entre o drama, o humor negro e a ação, mas sem ser bem sucedida em nenhuma das tentativas.
Abrindo sua história com uma narração que tenta soar engraçada ao apresentar as caricaturas do exército, a primeira falha do filme está em não conseguir ter um roteiro que sustente tais piadas. As apresentações soam forçadas e não conseguem arrancar riso algum, ficando mais o sentimento de vergonha alheia pelo que está sendo apresentado. A direção de Michôd também se encaixa na mesma descrição, por não trazer nada de novo, apostando em planos básicos, sem criatividade, com nenhuma grande momento sendo marcante para o espectador.
Protagonista sem carisma, McMahon é interpretado de forma tão caricata que é impossível acreditar em qualquer seriedade daquela situação. Parecendo uma versão corcunda e ruim do Tenente Aldo Raine, personagem de Pitt em “Bastardos Inglórios”, McMahon ainda conta com um sotaque que não apenas soa falso, como é irritante aos ouvidos É apenas quando, em dado momento, ele é posto de lado em prol de colocar os soldados como protagonistas da ação que o filme ganha algum mérito, por mais que as cenas de batalha não fujam do lugar comum.
Tais momentos conseguem ser eficientes em mostrar como a abordagem estadunidense da invasão ao Oriente Médio é um conflito sem fim. Um ataque equivocado é responsável por ilustrar como a falta de preparo dos soldados para lidar com a situação acaba por trazer apenas vítimas inocentes, em uma sociedade completamente diferente daquela que busca o “sonho americano”.
Com outros dois lançamentos importantes em 2017, “Okja” e “Blight”, a Netflix ainda tem a oportunidade de se redimir e trazer obras que valham o investimento milionário que a empresa coloca nelas. “War Machine”, em toda sua mediocridade, não é uma delas. Com atuação ruim de um bom ator, uma direção preguiçosa e um roteiro que não sabe em que gênero quer permanecer, é facilmente daqueles filmes que podem ser ignorados por completo do serviço.
Cotação: nota 3/ 8
Ficha técnica
War Machine (EUA, 2017). De David Michôd. Com Brad Pitt e Will Poulter. 121 min.