Finalmente chegando ao catálogo da Netflix após meses de antecipação e uma recepção no mínimo calorosa em Cannes, “Okja”, novo filme do sul-coreano Bong Joon-ho, vem com a missão de trazer uma mensagem ambiental relevante e mostrar que o serviço de streaming também é capaz de realizar grandes obras cinematográficas. Entrando na discussão de se a Netflix é, de fato, benéfica para o Cinema, o resultado acaba sendo uma obra cujo objetivo não só é alcançado, como também traz um entretenimento de qualidade para o público.
Fruto de um experimento com porcos para gerar milhões de clones prontos para o abate, Okja é uma “superporca” que vive sua dona Mikha (Ahn Seo-Hyun) e seu avô, na Coréia do Sul. Por dez anos, uma multinacional, responsável pela criação dos porcos, deixou os animais para serem criados por 26 fazendeiros de todo o mundo. A década se passa e a empresa volta para buscar os animais. Ao descobrir que sua amiga está prestes a ser abatida, Mikha, junto a um grupo que luta pelos direitos dos animais, irá procurar mudar o destino de Okja.
Partindo de uma temática atual, um dos principais pontos do filme é apresentar sua mensagem sem soar panfletário. A relação de amizade entre Mikha e Okja é tão orgânica que é impossível não torcer pela missão da menina. Apesar de tudo ser muito fofo, o lado cru da história, que retrata a real crueldade da indústria alimentícia não é fácil de ser encarado por quem consome carne diariamente. É uma reflexão relevante, que joga luz sobre um tema que a maior parte do público prefere ignorar por conveniência, mas que não deve ser deixado de lado.
É preciso também ressaltar a qualidade da animação de Okja. A superporca é realista e cativante, fazendo com que os momentos de sofrimento do animal sejam ainda mais intensos. Fundamentais também são os personagens excêntricos que permeiam a trama, em especial, as gêmeas Lucy e Nancy (interpretadas pela camaleoa Tilda Swinton) e Johnny Wilcox, construído de forma afetada por Jake Gyllenhaal. Por mais que nem sempre seus exageros caibam na seriedade da trama, a figura caricatural dos personagens funciona bem como crítica à indústria alimentícia.
Se permitindo trazer humor para aliviar a tensão da trama, as cenas cômicas do longa funcionam, sem jamais soarem apelativas. O mesmo não pode ser dito por algumas das subtramas de “Okja”, como a relação das irmãs Lucy e Nancy. A justificativa pela existência das duas personagens é nula, com qualquer uma das duas podendo ser retirada da trama sem que tal ato prejudicasse o andamento do filme.
Eficaz em sua proposta, “Okja” mostra que, em parceria com realizadores competentes, a Netflix é capaz de lançar filmes relevantes para o cenário cultural. Apesar da maioria dos esforços da gigante do streaming acabarem esquecidas em seu próprio catálogo, o filme de Bong Joon-ho é uma obra que merece se destacar entre as demais. Afinal, tem como alguém resistir a Okja rolando na água?
Cotação: nota 6/8
Ficha Técnica: Okja (EUA, COR, 2017) De Bong Joon-ho. Com Tilda Switon, Ahn Seo-Hyun e Jake Gyllenhaal. 121 min.