Ser o segundo filme de uma trilogia de “Star Wars” traz em si um peso. De um lado, temos “O Império Contra-Ataca” (1980), episódio V na cronologia e a única obra-prima dentro de vários bons filmes na franquia. Do outro, temos “Ataque dos Clones” (2002), o episódio II e, na minha controversa opinião, pior até que o terrível “A Ameaça Fantasma” (1999). Ou seja, o peso era grande para a chegada de “Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi”, de Rian Johnson, segundo filme da trilogia protagonizada por Rey (Daisy Ridley).

Rey (Daisy Ridley) e Luke (Mark Hamill): aprendiz e mestre

Com muito mais certos do que erros, o filme é uma das mais autênticas aventuras “Star Wars”, por assim dizer. Há, em uma leitura, o caráter fantástico, mitológico, em uma trama que sempre gira em torno do conceito de família. Em outra, surge o aspecto comercial sempre vivo nas galáxias muito, muito distantes. O sentido da obra é sempre crescente, com um ritmo frenético que surge como forma de aplacar a duração do filme (152 minutos, o maior da franquia). Ao mesmo tempo, os sentimentos – ódio, amor e uma busca constante por equilíbrio -, dão maior força ao legado dos jedi, que vem sendo construído há quatro décadas.

O sentido de “Os Últimos Jedi” é bem fiel à proposta de “Star Wars”. Não é uma obra de ficção científica. É uma fantasia espacial, um épico de construção mitológica. Sobrepostas, as jornadas de Anakin Skywalker (trilogia prequel), Luke Skywalker (trilogia original) e Rey (trilogia atual) criam um tecido narrativo de ciclos e retornos. São sempre os mestres que falham e os alunos que os superam. Há sempre uma ameaça sombria, que esconde as consequências ao oferecer uma proposta de salvação. São atos de salvação de heróis anônimos.

Kylo Ren (Adam Driver): um homem em conflito

Desta vez, Rey encontra Luke (Mark Hamill), que se nega a ensiná-la o caminho dos jedi após fracassar no treinamento de Ben/Kylo Ren (Adam Driver). Luke falhou com Kylo assim como Obi-Wan falhou com Anakin/Darth Vader. O maior mérito do roteiro de Rian Johnson é conhecer o senso de vazio de seus personagens. Rey nunca conheceu seus pais. Ben matou o próprio pai. Luke viu o pai morrer para salvá-lo. Anakin viu a mãe morrer em seus braços. No caso dos dois primeiros, protagonista e antagonista do episódio VII (“O Despertar da Força”), esse vazio, essa solidão, é espaço para aproximação. Nesse ponto, “Os Últimos Jedi” já oferece uma chance de redenção para o vilão ou uma oportunidade de ruína da heroína, algo que ressoa nos diálogos de “O Retorno de Jedi” (1983), filme final da trilogia original.

A referência constante, no entanto, é “O Império Contra-Ataca” (1980). Há, ao mesmo tempo, o flerte da tentativa de sedução de Kylo e Ren investem um no outro que rememora os planos de Darth Vader. E como o roteiro da trama evoluiu, as propostas soam ainda mais plausíveis. Só que esse centro narrativo da obra acaba diluído nos excessos. São várias sub-plots, dezenas de batalhas, várias piadas para aliviar tensão e animais fofos para vender bonecos que acabam desviando do ótimo caminho central que se apresentava.

Finn (John Boyega) luta contra Phasma (Gwendoline Christie): boa sub-plot que se perde no excesso de sub-plots

Assim, o produto final vai se perdendo nos desvios. Por exemplo, as cenas de Finn (John Boyega) e Rose (Kelly Marie Tran) são ótimas. Mas estendem o filme desnecessariamente. Poe Dameron (Oscar Isaac) e o conflito com a Almirante Holdo (Laura Dern) acaba grandiloquente demais, por mais que a nova personagem traga um dos melhores momentos do filme. A preocupação de Rian Johnson em fazer um roteiro bem fechado, com arcos bem construídos para todos, é louvável, mas tira a força da trama principal.

Quem surge mais fora de tom em tudo, no entanto, é o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis). Enquanto era apenas um nome e um holograma, o personagem gerava interesse. Agora, ele surge como um déspota antipático. Se o imperador Palpatine/Darth Sidious parecia até bondoso ao lado de Anakin, Snoke é apenas violento e dado a demonstrações gratuitas de poder. Soa até pequeno, ainda mais diante da falta de background sobre o personagem. Ele é pouco mais do que uma escada para o conflito entre Kylo Ren e Rey.

Rey (Daisy Ridley) na ilha de Luke

“Os Últimos Jedi” é muito mais “O Império Contra-Ataca” do que “Ataque dos Clones”. É grandioso, vistoso e construído com habilidade. Há uma gama de personagens interessantes, por mais que esqueçamos deles para assistir uma das criaturas fofas introduzidas no filme (neste, há os porgs, focas/pássaro, os fathiers, cavalos/cães e as raposas de cristal). Ou no meio das piadas – Luke tem um senso de humor curiosamente parecido com o do ator Mark Hamill, que o interpreta. Ou no excesso de outros personagens. Mas, bem, fã que é fã costuma querer sempre mais. E nada mais efetivo para um César do que dar o que o povo clama. E isso é, sinceramente, bem divertido – mais do que se pode dizer sobre quase todos os filmes de super-herói que invadem os cinemas de 3 em 3 meses.

(andrebloc@opovo.com.br)

Cotação: nota 6/8

Filme em cartaz nos cinemas brasileiros

Ficha Técnica
Star Wars: Os Últimos Jedi
(Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi, EUA, 2017), de Rian Johnson. Com Daisy Ridley, Adam Driver, Mark Hamill e Carrie Fisher.

About the Author

André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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