As bandas internacionais que me perdoem – Black Eyed Peas foi o máximo e Cranberries prometem um showzão – mas os shows nacionais do Ceará Music também merecem todo o destaque. Falando especificamente do sábado (o que exclui o show sempre animado do Biquíni Cavadão, embora sem novidades, o do Cine, que não é de todo um prejuízo, e o do sempre ótimo Skank), o que pude ver é que toda a programação conseguiu garantir um público grande e bem animado. Aliás, se o Ceará Music continuar nessa de trazer atrações internacionais de peso (o que seria bem bom), logo logo eles vão precisar de um lugar maior. O que também traz um prejuízo, pois a festa no Marina Park fica ainda mais bonita. Mas, voltando às bandas nacionais, logo que cheguei, quem estava cantando era a Pitty. A baiana conseguia, sem grande esforço, colocar todo o público para cantar junto um repertório cheio de sucessos. Embora ela ainda me pareça uma artista iniciante, o futuro parece ser bem promissor. Sem grandes afetações e estrelismo, a moça canta bem, tem energia e está ousando cada vez mais como compositora, se livrando aos poucos de uma imagem adolescente (ela tem 33 anos). Depois dela, foi a vez dos adorados Los Hermanos. Ali é covardia. Embora a simpatia deles pareça sempre uma coisa bem forçada, o repertório é dos melhores. E tome hit passando por todos os quatro discos da carreira. Aparentemente, não faltou tocar nada e o público acompanhou tudo cantando junto. Na verdade, o show do Los Hermanos me parece mais uma cerimônia religiosa do que uma apresentação musical. O clima é de respeito como se dali saísse uma verdade universal. Mas, verdade seja dita, os caras fazem um som maneiro e sabem compor letras dignas de grandes compositores nacionais, como Chico Buarque ou Ronaldo Bastos. Quem achar que isso é uma heresia, que ofende o nome do grande Chico, lembre que ele já teve 30 e poucos anos. O terceiro show do palco principal foi dos brasilienses do Natiruts. Raggae da melhor qualidade. Mas não é só isso. Alexandre Carlo (voz e guitarra) tem uma excelente voz, digna de soul man, e compõe com a ginga típica do país do futebol e do samba. O som jamaicano tá ali, mas junto com uma série de influências que engrandecem o trabalho. Mesmo tocando menos nas rádios do que mereciam, eles têm uma gama boa de fãs que acompanhou atento o show. Da Jamaica, vamos para Brasília. O Capital Inicial estava com sangue nos olhos quando subiu ao palco. Bem recuperado do acidente que sofreu em outubro de 2009, Dinho Ouro Preto se mostrou tão enérgico quanto das outras vezes que se apresentou no festival cearense. O show foi curto, mas bem classudo. O repertório equilibrou bem os sucessos, como Veraneio Vascaína, com o novo disco, Das Kapital (2010). Pra encerrar, pra quem achava que não iria rolar, Dinho organizou o público para que todos juntos gritassem um alto e sonoro “ducaralho!!!!”. Encerrando a noite, os Paralamas do Sucesso confirmaram por que se tornaram um clássico da música brasileira. O trio azeitado pelos fiéis parceiros João Fera, Demétrio Bezerra e Bidu Cordeiro, tocou até o dia amanhecer. Lanterna do afogados, Tendo a lua, Ska, Meu erro, Alagados, O calibre… Como se bastasse ouvir o filé da produção roqueira brasileira, Herbert, Bi e João ainda receberam como convidado o mestre Frejat, repetindo a parceria que fez com o trio no show/DVD/CD Uns Dias Ao Vivo (2004). As músicas foram Uns dias, Caleidoscópio e, de surpresa, Exagerado. Em seguida foi a vez de Toni Garrido que, aparentemente prejudicado pelo som, não alcançou o brilho que tentou imprimir em canções como O Beco. Os Paralamas também chamaram de volta ao palco Pitty e os Hermanos Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante. O clima de improviso transformou cada momento numa aula de rock ‘n’roll de verdade. Infelizmente, Dinho Ouro Preto, companheiro de geração, e Alexandre Carlo, que iria garantir um encontro inédito (assim como a Pitty), não participaram da festa. Sol já nascendo no céu, o grupo se despediu deixando um público satisfeito com tudo que viu e confirmando que brasileiro sabe fazer show da melhor qualidade. É como diria Bruno Gouveia, “Viva o Rock Nacional!”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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