2010 foi o ano de Lobão limpar suas gavetas e botar pra fora suas memórias. Com a autobiografia 50 anos a Mil, o músico carioca resolveu contar uma série de histórias dignas de deixar até o Kojak com os cabelos em pé. A estreia literária rendeu boa repercussão, polêmicas e holofotes que agora são divididos com o box Lobão 81-91, lançado pela Sony Music. O trabalho traz três discos reunindo uma seleção de 41 canções selecionadas pelo próprio cantor, mais o DVD Acústico MTV lançado em 2007. Para comandar a remasterização de todo o trabalho, foi convidado o maestro Roy Cicala, que já trabalhou com John Lennon e Elvis Presley.

Figura proeminente do rock nacional oitentista, Lobão muitas vezes deixou essa carreira ser eclipsada por sua mania de funcionar como consciência coletiva da humanidade. Isso o fez ser mais conhecido por novas gerações mais pelo jeito falastrão, do que por suas canções. Dessa forma, Lobão 81-91 reapresenta belas canções como Por tudo que for e Azul e Amarelo, curiosa parceria de Lobão com Cazuza e Cartola. Tem ainda roquinhos pós-Jovem Guarda como Corações psicodélicos e Cena de cinema, e críticas afiadas como O eleito e Presidente mauricinho, ambas dedicadas a um certo presidente que gostava de jet ski e aviões de caça.

A caixa de Pandora
Com mais tempo de carreira, Zé Ramalho também decidiu começar 2011 passeando pela própria história. Envelopados na sua Caixa de Pandora, o paraibando reuniu 56 faixas abragendo seus 30 anos de carreira fonográfica e o DVD revisionista Zé Ramalho Ao Vivo, lançado em 2005. Os quatro discos do box dividem as canções nos temas Sucessos 70/80, Sucessos 80/20, Zé Ramalho Canta a MPB e Raridades. E é nesse ponto que Zé ganha de Lobão.

Se Lobão 81-91 apresenta faixas outrora lançadas desorganizadamente em CD, A Caixa e Pandora ganha por trazer um bom e curioso material inédito. Um destaque fica para Amigo (Roberto/ Erasmo), que virou um choro dividido com Fagner, e Águas de Março, de Tom Jobim, em versão diferente da apresentada no disco Estação Brasil (2003). O que era uma bossa nova, vira um baião temperado com flautas. Baião é o que ele faz também com Não quero dinheiro, de Tim Maia. Das inéditas, seis foram gravadas para o disco Zé Ramalho canta Raul Seixas (2001). São elas, As profecias, Água viva, Cachorro urubu, A hora do trem passar, Loteria da Babilõnia e Gitâ.

Como intérprete, Zé Ramalho transborda personalidade no tom soturno que dá para Errare humanun est, do clássico A Tábua de esmeralda de Jorge Ben Jor, e O que é O que é, de Gonzaguinha. Sem medo de comparações, Zé transforma Bete Balanço (Cazuza/Frejat) num… em algo inclassificável. Como compositor, ele junta referências à família, misticismo, política e vida, criando uma poesia afiada  que, junto com seu canto apocalíptico, faz desta Caixa de Pandora um bom retrato do que é a obra de Zé Ramalho da Paraíba.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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