Deixe as vergonhas de lado, perca os pudores e se jogue nos braços do prazer com Erasmo Carlos (Foto: Daryan Dornelles/Fotonauta). O convite vem do próprio mestre que, do alto dos seus 70 anos (completados no último 5 de julho), deixa de lado o estilo romântico e conservador do seu parceiro mais constante para lançar o auto explicativo Sexo. Com produção de Liminha (o mesmo do excelente Rock’n’Roll), o disco traz 12 faixas com dicas, desabafos, discussões e impressões do velho mestre sobre o “esporte” mais praticado pelo homem.

“Antes eu queria mesmo era quantidade. Hoje prezo pela qualidade”, assume Erasmo, por telefone, lembrando seus velhos tempos de Jovem Guarda. A voz marota e cheia de malícia, em nenhum momento aparenta vergonha ou vontade de esconder algum detalhe. “As pessoas perguntam se eu já tomei alguma coisa. Já tomei Viagra, mas não gosto. Prefiro Cialis e o Levitra. A juventude toda toma, mas ainda existe o tabu”, protesta. Aliás, ele assume que já sabia que um homem da sua idade falando sobre sexo iria dar no que falar. “Não faço pra chocar, mas pra acordar. Os meninos não têm a quem perguntar, a religião bota o pecado na cabeça das pessoas. O sexo era pra ser um papo normal”.

Mas, não espere ouvir baixarias, duplo sentido ou nada que incomode à grande família brasileira em Sexo. Entre a clareza e a figura de linguagem, Erasmo aborda a fidelidade, a traição, a diversão do sexo de uma forma única. “Nesse disco, eu queira falar de uma forma com menos poesia, como se fala no ouvido da mulher”, explica citando Apaixocólico anônimo, uma ode ao sexo oral onde ele se assume um “escravo do mel” da amada. Sem esquecer também a amálgama entre sexo e amor, foi o próprio Erasmo quem sugeriu a arte da capa.

No quesito diversão, Sexo abre com uma lista de posições sexuais levantadas por Arnaldo Antunes e transformadas na agitada Kamasutra. Caranguejo, coqueirinho ajoelhado, guindaste, fênix na caverna vermelha, são só algumas sugestões presentes. Erasmo confessa que uma boa parte ele já fez, mas não sabia o nome. A solução foi consultar o bom e velho google para se atualizar. “Mas o ‘papai e mamãe’ ainda é hors concours. É mais relaxado”, adianta. Kamasutra é a primeira música de trabalho que vai ganhar um clipe. Aliás, dois clipes com direção de Cacá Diegues. Um deles terá cenas censuradas.

Além do ex-Titã, Sexo traz Erasmo junto com outros parceiros (ops!). Adriana Calcanhotto, admiradora confessa, traz uma visão feminina para Seu homem mulher, tema com ares de George Harrison. Sexo e Humor é um rockão clássico em parceria com Chico Amaral. Já Nelson Motta contribui na bela balada E nem me disse adeus, adocicada pelos vocais dos Filhos da Judith. E o produtor Liminha comparece em O Rosto do Rei, cheia de guitarras sujas sobre uma letra que, queira ou não, faz lembrar um tal Roberto que há tempos largou o rock.

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Falando de outro assunto que dá tesão ao compositor, são as várias nuances do rock que dá o ritmo para Sexo. “Como sou brasileiro, sofro muita influência de estilos como Bossa Nova, baião e samba. Acabei virando uma MPB muito radical, que me deu vontade de voltar às raízes”, explica Erasmo orgulhoso por ter resgatado o blusão de couro do fundo do armário. Agora ele aguarda o lançamento do DVD ao vivo no Rio com o registro da turnê Rock’n’roll e participações de Marisa Monte e Roberto Carlos. Outra expectativa é pelo show que vai dividir com Arnaldo Antunes no Rock in Rio. “Vejo que a juventude tem ido aos meus shows. Tem o público da Jovem Guarda, mas to vendo gente nova. Todo mundo canta, dança e sempre predomina a descontração, a alegria”, encerra o mestre.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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