Confesso que nunca fui um grande fã da Jovem Guarda. POucos foram os artistas ligados ao estilo que conseguiram fazer algo diferente, dar um passo a diante. Além disso, a presença de uma figura tão centralizadora quanto Roberto Carlos acabou sendo prejudicial para os demais que viviam de repetir um modelo. Até mesmo Erasmo Carlos teve lá suas dificuldades para se firmar como um intérprete da própria obra, sendo colocado por alguns como um coadjuvante do amigo real. No entanto, Erasmo conseguiu correr por fora e ganhou reconhecimento onde Roberto foi faltando, mais precisamente, no Rock. Já Eduardo Araújo, outro companheiro de época, não teve a mesma sorte e acabou ficando marcado pra sempre como um ídolo de outrora. O mineiro de Joaíma lançou, com enorme sucesso, a canção O Bom e se imortalizou aí. Quando a Jovem Guarda acabou, poucos voltaram a lembrar seu nome. Mesmo tendo lançado o cult A onda é Boogaloo, trabalho produzido por um então desconhecido Tim Maia, poucos foram os que acompanharam a carreira do velho cowboy. No entanto, em 2011, quando Eduardo Araújo completa seus 50 anos de carreira, a Discobertas reaviva a memória brasileira e devolve três títulos da curta discografia (15 discos) do cantor às lojas.

Por ordem de idade, o primeiro é Rebu Geral, de 1981, seu primeiro disco assinado ao lado de sua amada Silvinha (falecida em 2008). Apesar da vontade de parecer moderno e de alguns arroubos de criatividade, o disco, considerado cult, tem um resultado bem mediano. Começa que todos os vícios oitentistas estão ali, como bateria eletrônica e som pasteurizado. O começo é até bonitinho com Imagens, uma declaração de amor mútua. Assim com esta, todas as demais faixas são de Eduardo Araújo e Lulu Martins. A exceção fica para a Paixão de um cowboy, de Hugo Terçarolli Filho e Marcos Gasparim, uma historinha engraçada de um homem brigando pela mulher amada. Além do curioso e inusitado projeto gráfico do trabalho, o mais curioso em Rebu geral é Lança menina, uma troca de farpas com Rita Lee que já começa dizendo “você que pichava tanto a MPB agora ta de quatro faturando cachê”. Provavelmente, é uma resposta direta para Arrombou a festa. Tem ainda algumas loucuras como Sapataria Progresso, com Silvinha dando arroubos de diva black a la Rosana, e o fraco manifesto ecológico Amazônia, tirado de um compacto de 1980.

Em seguida vem o bom Nunca deixe de sonhar, de 1985. O grande trunfo deste disco, com som ainda marcado por muitos teclados, é a presença de Dom Beto, um uruguaio que veio morar no Brasil e se engajou na cena black de Toni Tornado e Tim Maia. São dele nada menos que 6 das 10 faixas, todas com sotaque soul radiofônico. Um destaque fica para Reencontro, uma baladinha romântica cheia de melancolia. Aliás, é esse o tom que rege todo o disco. Tempo que é tempo, apesar dos exageros vocais, também é bonitinha. O mesmo acontece com Memórias, com uma bela letra sobre dar valor ao que se tem. Raio de luar fecha bem o trabalho com o rockinho funkeado bem pra cima. A reedição em Cd ganhou ainda a acelerada Rock da lambreta e o blues gospel Meu caminho é de luz e amor.

Por fim, Um homem chamado cavalo, de 1987, parece equivocado desde o título. A justificativa para a escolha do nome é que o trabalho versa sobre o amor de Eduardo Araújo pela vida de fazenda, bicho e mato. No entanto, tanto amor poderia render um trabalho mais apurado. O som é excessivamente cafona, calcado em teclados datados. A lista de compositores já entrega uma pegada mais populista. São canções de Michael Sullivan, Paulo Massadas e Roberta Miranda, que nem a produção do respeitável Renato Teixeira consegue salvar. Ele mesmo aparece como compositor na comprometedora Caminhoneiro. E é por que Kuky Stolarski (Funk Como Le Gusta) e Nivaldo Campopiano (Muzak) estão entre os músicos. Apesar dos resulatados irregulares da carreira de Eduardo Araújo, é sempre importante tirar do baú nomes que foram importantes para construir a história da música brasileira. Ainda mais que Eduardo está vivo e trabalhando. Próximo de lançar um novo trabalho (ao vivo), no alto dos seus 69 anos, ele merece sim os parabéns por estes 50 anos de história.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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