Em 1977, Roberto Carlos lançou disco onde interpretava pela primeira vez a poética Cavalgada. Fruto de sua frutífera parceria com Erasmo Carlos, a canção é uma das descrições mais despudoradas e belas do sexo. Falando em “beijos como açoite” e “mão mais atrevida”, a dupla ousou tratar do assunto de forma direta e quente. Nos anos seguintes, Roberto trocou o sexo de Cavalgada pela caretice de O grande amor da minha vida . Já seu amigo fiel e irmão camarada seguiu firme se aprofundando no assunto nas mais diferentes posições. Como quem quer reafirmar a importância do sexo para a vida, Erasmo coloca este mês nas lojas o seu temático 25º disco, denominado simplesmente de Sexo. Ao longo de 12 faixas, o mestre, no alto dos 70 anos, fala sobre as mais variadas vertentes do “esporte mais praticado pelo homem” de forma aberta, divertida, mas sem cair na vulgaridade. Sexo dá continuidade à parceria com o ex-Mutante Liminha que se inicou nos anos 70 e gerou, em 2009, o ótimo Rock’N’Roll. É Liminha quem acrescenta instrumentos indianos ao som de Erasmo. Logo na largada, na stoniana Kamasutra, são as cítaras quem fazem a cama para as posições sexuais listadas pelo parceiro Arnaldo Antunes. O ex-titã segue com Roupa Suja, um desabafo sofrido de um homem largado que encontra uma certa doçura na voz de Erasmo. Já com bastante expedriência a intimidade no quesito sexo, Erasmo Carlos nem precisou se afastar muito do estilo que construiu ao longo de mais de 50 anos de carreira tratar de sexo. Apaixocólico anônimo, por exemplo, poderia estar no disco Buraco Negro (1984), que também passa pelo assunto. Ainda assim, Sexo conserva sua personalidade ao procurar novas abordagens. Por exemplo, para incluir uma visão feminina, ele convidou a amiga Adriana Calcanhotto para dividir a composição de Seu homem mulher, que ainda conta com o reforço luxuoso de Frejat nas guitarras. Nelson Motta comparece na fraca Vênus e Marte e na delicada E nem me disse adeus. Cheia de ternura e com sonoridade oitentista, esta segunda é um dos pontos altos do trabalho, assim como a agitada Sexo e Humor. Parceria com Chico Amaral, a canção traz o DND do Skank. Apesar da bela melodia, Santas mulheres santas é um ponto baixo do disco e repete um jeitão machista que já gerou Não te quero santa, do clássico Carlos, Erasmo (1971). Fechando o disco, Sexo é vida remete a George Harrison para sintetizar toda a mensagem que Sexo pretendia passar. Assumindo o papel do espermatozoide, Erasmo agradece pai e mãe pela oportunidade de fecundar e “gozar a vida”. E é esta alegria que permeia todo o trabalho de um compositor que se rejuvenesce aos 70 anos na base do sexo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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