Diante de tal contribuição, não tardou para que ele ganhasse reconhecimento entre figuras do cinema, do teatro e, claro, da música. Aliás, é nesse último onde seu nome é mais celebrado. Uma das homenagens mais sinceras que ele recebeu chegou pela organização internacional Red Hot, que produz discos para levantar fundos para a luta contra a AIDS. Em 1996, a série lançou Red Hot + Rio, onde se voltou para a Bossa Nova de Tom Jobim e contou com um sublime dueto de Caetano Veloso e Cesária Évora em É preciso perdoar. Agora, num segundo volume dedicado ao Brasil, é Caetano quem está no centro do assunto.
Mais que um tributo reunindo grandes nomes para dar novas versões à obra do baiano, a proposta do disco (duplo) é homenagear o pensamento caetânico. Ou seja, só há uma regra: é proibido proibir. A produção de Béco Dranoff, Paul Heck e John Carlin (assessorada por Mário Caldato Jr., Kassin e outros) procurou qualquer tipo de sotaque que tivesse um pé no Brasil e outro no mundo, e reuniu em 34 faixas que contam com uma infinidade de artistas. Se a proposta era ser tropicalista, não podia haver fronteiras.
Assim como são os mais de 40 discos de Caetano Veloso, Red Hot + Rio 2 caminha por uma imensidão de sons, desde uma inocente Bossa Nova até uma viagem psicodélica. Pra melhorar, quase tudo inédito. A única exceção fica para Dreamworld: Marco Canavezes, onde o homenageado faz dueto com o amigo David Byrne (dupla que acaba de lançar um disco no exterior). A faixa foi lançada em outro projeto Red Hot, só que em homenagem à música portuguesa.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=UXjRzHZx8a4&feature=related[/youtube]Como não poderia deixar de ser num trabalho tão grande e ousado, existem pontos altos e alguns escorregões. No primeiro bloco, Vanessa da Mata recebe o projeto Almaz (aquele do Seu Jorge) para lançar uma composição própria, Boa Reza, que lembra os bons momentos de Milton Nascimento. Já a banda folk americana Beirut refaz O Leãozinho com percussão e ukulele (instrumento de cordas). De Caetano, It’a a long way cai como uma luva na voz lânguida de Céu. Até Freak Le boom boom, inesquecível sucesso da Gretchen, ganha ar Cult com Marina Gasolina e Secousse. Quanto aos momentos menos felizes, Samba de verão se perde no arranjo da dupla Quadron. Assim como Mistérios, composição de Joyce e Maurício Maestro, ganhou uma versão incompreensível com o rapper Om’Mas Keith. Mas não tem problema. Desafiar o compreensível já faz parte da vida de Caetano Veloso, o que faz de Red Hot + Rio 2 um retrato fiel do seu homenageado.