Enquanto muito ainda se incomodam com as opiniões de Caetano Veloso, ele segue sua vida como um nomes referenciais da música brasileira. Ao mesmo passo que é um polemista inspirado, é também uma das mentes mais brilhantes da América Latina. Uma prova disso está ainda no começo da carreira do baiano, quando ele costurou vários continentes musicais para dar início ao movimento Tropicalista, eminentemente nacionalista, mas inteligentemente aberto às influências. Se não, como trazer Vicente Celestino e Beatles para um mesmo LP?

Diante de tal contribuição, não tardou para que ele ganhasse reconhecimento entre figuras do cinema, do teatro e, claro, da música. Aliás, é nesse último onde seu nome é mais celebrado. Uma das homenagens mais sinceras que ele recebeu chegou pela organização internacional Red Hot, que produz discos para levantar fundos para a luta contra a AIDS. Em 1996, a série lançou Red Hot + Rio, onde se voltou para a Bossa Nova de Tom Jobim e contou com um sublime dueto de Caetano Veloso e Cesária Évora em É preciso perdoar. Agora, num segundo volume dedicado ao Brasil, é Caetano quem está no centro do assunto.

Mais que um tributo reunindo grandes nomes para dar novas versões à obra do baiano, a proposta do disco (duplo) é homenagear o pensamento caetânico. Ou seja, só há uma regra: é proibido proibir. A produção de Béco  Dranoff, Paul Heck e John Carlin (assessorada por Mário Caldato Jr., Kassin e outros) procurou qualquer tipo de sotaque que tivesse um pé no Brasil e outro no mundo, e reuniu em 34 faixas que contam com uma infinidade de artistas. Se a proposta era ser tropicalista, não podia haver fronteiras.

Assim como são os mais de 40 discos de Caetano Veloso, Red Hot + Rio 2 caminha por uma imensidão de sons, desde uma inocente Bossa Nova até uma viagem psicodélica. Pra melhorar, quase tudo inédito. A única exceção fica para Dreamworld: Marco Canavezes, onde o homenageado faz dueto com o amigo David Byrne (dupla que acaba de lançar um disco no exterior). A faixa foi lançada em outro projeto Red Hot, só que em homenagem à música portuguesa.

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Como não poderia deixar de ser num trabalho tão grande e ousado, existem pontos altos e alguns escorregões. No primeiro bloco, Vanessa da Mata recebe o projeto Almaz (aquele do Seu Jorge) para lançar uma composição própria, Boa Reza, que lembra os bons momentos de Milton Nascimento. Já a banda folk americana Beirut refaz O Leãozinho com percussão e ukulele (instrumento de cordas). De Caetano, It’a a long way cai como uma luva na voz lânguida de Céu. Até Freak Le boom boom, inesquecível sucesso da Gretchen, ganha ar Cult com Marina Gasolina e Secousse. Quanto aos momentos menos felizes, Samba de verão se perde no arranjo da dupla Quadron. Assim como Mistérios, composição de Joyce e Maurício Maestro, ganhou uma versão incompreensível com o rapper Om’Mas Keith. Mas não tem problema. Desafiar o compreensível já faz parte da vida de Caetano Veloso, o que faz de Red Hot + Rio 2 um retrato fiel do seu homenageado.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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