Filha do mítico Serge Gainsbourg, francês compositor dos sussurros de Je t’aime moi non plus, Charlotte Gainsbourg tinha planos de que seu terceiro trabalho fosse um disco duplo. No entanto, Stage Whisper (Warner) chegou ao Brasil em versão simples com 19 faixas. Oito delas foram gravadas em estúdio durante as sessões do anterior IRM (2009) e, com exceção de Anna, todas já haviam sido apresentadas no EP Terrible Angels. As outras 11 faixas foram captadas ao vivo durante a turnê europeia de 2010. Cheio de vocais lisérgicos, teclados malucos e camadas viajantes, Stage Whisper traz colaborações de Beck Hansen, Noah And The Whale, Conor O’Brien, do Villagers, e Connan Mockasin. Beck, por sinal, continua a parceria vitoriosa com a francesa, iniciada também no disco IRM. Na porção ao vivo, o destaque fica para o eletroblues Jamais (Jarvis Cocker/ Nicolas Gondin/ Jean-Benoit Dunckel) e para o pop Heaven can wait (Beck Hansen). Há ainda uma versão introspectiva de Just Like a Woman, do bardo Bob Dylan. Longe de qualquer zona de conforto, o canto de Charlotte é sedutor, agressivo e profundo, como se ela cantasse da mesma forma que interpreta seus filmes (quem viu O Anticristo?). Assim como seus outros dois discos – 5:55, de 2006, é produzido e tocado pela dupla Jarvis Cocker e Neil Hannon, do Air -, Stage Whisper é coisa pra ser provada, degustada e consumida aos poucos, com cuidado, e atenção.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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