beatles2Para comemorar os 50 anos de Please, please me, álbum de estreia dos Beatles, a radio londrina BBC organizou um desafio que tentava reviver o mesmo clima vivido pelo quarteto em 1963. Contando com a participação de Mick Hucknall (ex-Simply Red), Joss Stone, Stereophonics e outros nomes, a ideia era que os convidados recriassem o disco aniversariante em apenas 12 horas, mais ou menos o tempo que o original levou para ser gravado. O especial da BBC, transmitido ao vivo do estúdio Abbey Road, foi ao ar em 15 de fevereiro.

Apesar do time de estrelas, é bem verdade que a homenagem promovida pela BBC não é exatamente original. Ao longo desses mais de 50 anos de história, artistas do mundo inteiro, dos mais variados nichos, e com as mais variadas intenções, já expuseram suas visões sobre a obra do quarteto de Liverpool. Puxando rapidamente pela memória, Sarah Vaughan, Duofel, Zé Ramalho, Rita Lee e Roberta Flack são alguns dos nomes que se debruçaram sobre a obra dos rapazes e dedicaram discos inteiros a um dos repertórios mais famosos do pop internacional. Não é à toa que Yesterday tornou-se a música mais regravada da história. Dependendo do levantamento, só quem roça essa hegemonia é a nossa Garota de Ipanema.

No Brasil, ninguém se aproximou tanto do som dos Beatles quanto a Jovem Guarda. Vertendo para o português canções de John, Paul, George e Ringo, muitos artistas repetiram por aqui a movimentação que nasceu em Londres. Os Fevers, por exemplo, recriaram uma canção de Lennon e McCartney em cada um dos seus quatro primeiros discos. O mesmo teria acontecido com Renato e seus Blue Caps, não fosse o fato do grupo carioca ter estreado em disco antes dos ingleses. Pra compensar o atraso, em Viva a juventude! (1964) eles trazem três versões: Menina linda (I should have known better), Sou feliz dançando com você (I’m so happy just to dance with you) e Garota malvada (I call your name). Indo com mais sede ao pote, Ronnie Von estreou em 1966 com nada menos que sete versões para Lennon e McCartney. Até o Rei Roberto Carlos já fez parte desse grupo com Eu te amo (And I love her).

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Mês nem só de Jovem Guarda e versões é feita a história dos Beatles no Brasil. Em 1975, Caetano Veloso homenageou o FabFour com o disco Qualquer coisa. Além da capa, que adapta a ideia do disco Let it be, ele deu novas roupagens para Lady Madonna, Eleanor Rigby e For no one. O mesmo fez Cássia Eller que, em seu disco de estreia, transformou Eleanor Rigby num reggae. Anos depois, numa gravação póstuma, ela apresentaria uma versão blues para Get back. Até Elis Regina, que em raros momentos cantou em outras línguas, seguiu o conselho do produtor (e então namorado) Nelson Motta e fez bonito em Golden slumbers.

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Nem o mestre Raul Seixas escapou da influência dos Beatles. Tanto que ele refez Lucy in the sky with diamonds, agora com o nome Você ainda pode sonhar. O tema viajandão ganhou as vozes de Zé Ramalho, da banda Ira! e do próprio Raul. Até as Frenéticas já deram sua contribuição nessa lista com uma tradução (quase) literal de Revolution, feita em parceria com Leo Jaime. E quando o assunto é Ceará, a coisa não é diferente. Gal Costa, em 1987, chegou às rádios com a balada Viver e reviver, versão de Here, there and everywhere com letra de Fausto Nilo. Já Amelinha pegou a nova letra de Zé Ramalho para The fool on the hill e cantou O tolo da colina. Nessa turma, Raimundo Fagner não poderia ficar de fora e fez uma leitura tocante para Across the universe, registrada no tributo As outras cores do álbum branco. Mas vamos parando por aqui, por que, se os tributos entrarem nessa lista, ela não termina mais.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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