Longe das modernices, batidas eletrônicas ou misturas, muitas vezes, esdrúxulas, o Casuarina tem como trunfo o respeito pela velha guarda, sem querer fazer de conta que faz parte dela. Esse olhar cuidadoso para “os arquitetos da música brasileira” (como diz Marcelo D2) é a tônica do projeto comemorativo 10 anos de Lapa, que o quinteto carioca, formado em 2001, está lançando somente agora, com dois anos de atraso. Registrado num show gratuito realizado em maio de 2012, o DVD não podia ter outro cenário senão os icônicos Arcos da Lapa.
“Era um sonho nosso de muito tempo e não tinha lugar melhor pra fazer. Foi lá (na Lapa) onde nós começamos, onde surgiu uma cena. Foi ali que a gente aprendeu a fazer música”, explica Gabriel Azevedo, voz e pandeiro do Casuarina. Segundo ele, mais do que a comemoração da primeira década do grupo, o DVD comemora a revitalização de um bairro que durante muitos anos perdeu a marca da batucada para ganhar a fama de perigoso. “Nós queríamos gravar nesse contexto, gratuito. Nós vimos aquele lugar retomar sua vocação e queríamos dar um presente para o Rio de Janeiro”.
Quando sozinho, o Casuarina também dá conta do seu recado muito bem. Numa homenagem a Chico Anysio (1931 – 2012), eles emendam a belíssima Rio Antigo com a sincopada Nicanor Belas Artes, parcerias do cearense, respectivamente, com Nonato Buzar e João Nogueira. “O Chico é um gênio. Eu só consigo compará-lo ao Charles Chaplin. Quando ele morreu, se celebrou muito o humorista, o dramaturgo, mas se deixou de lado o compositor”, aponta Gabriel Azevedo.
10 anos de Lapa também abre espaço para o lado compositor do quinteto, sedimentada no disco Trilhos/ Terra firme (2011). Foi dele que saíram Dissimulata, Trilhos e Samba de Helena, homenagem de Gabriel à filha. Desse repertório próprio, Ponto de vista, de João Cavalcanti, é um destaque que deve ter audição obrigatória na vitrola dos sambistas de qualquer geração, principalmente por conta da letra inspirada (“Guardado no bolso do louco há sempre um pedaço de deus”).
Ao longo de quase duas horas de música, o Casuarina ainda recebe Délcio Carvalho, Lenine, Áurea Martins, Nilze Carvalho e outros convidados. De jeans e tênis, eles se mostram competentes na arte de fazer música simples e divertida, sem a pretensão de “renovar” o samba. Mesmo renegando o título de “talibambas” (apelido dado aos puristas do samba), é bem verdade que eles têm os dois pés fincados na tradição e devem garantir mais 10 anos de carreira desse jeito.