Inteligente acima da média e conhecedor enciclopédico do rock, criou joias da música brasileira que resistiram bem ao tempo. São peças como Ainda é cedo, Eduardo e Mônica ou Faroeste Caboclo.
No entanto, tamanho sucesso fez sua banda, que arregimentou uma legião de fãs que o endeusam além da medida, tornando o músico carioca uma espécie de messias da juventude. Em contrapartida, o músico retribuia os fãs com opiniões contundentes, posturas coerentes e menagens cheias de conteúdo filosofico. Por isso mesmo, mexer na história de Renato Russo é sempre um desafio. Um passo em falso, e um sem número de fãs é capaz de “twittar muito” ou promover um linchamento on line sem medidas. Ainda assim, o diretor Antônio Carlos da Fontoura aceitou o desafio de retratar a história do ídolo no filme Somos tão jovens.
Nessa história, Somos tão jovens passa por outros nomes fundamentais para aquele cenário, como Paralamas do Sucesso, Plebe Rude e Capital Inicial. Claro, o Aborto Elétrico, banda seminal que aglutinou parte substancial da turma, é quem ganha papel porta-bandeira da cena.
O Renato exibido por Thiago é convincente, apesar de alguns momentos os trejeitos do músico parecerem forçados demais. No entanto, o estrelismo, o conflituoso, o dominador e outras porções que compunham a personalidade do legionário são bem mostrados na película. Em doses mais pálidas e bondosas, as drogas e a homossexualidade também comparecem. Já uma suposta tentativa de suicídio sequer é citada.
É verdade que poucos segredos existem na “biografia oficial” de Renato Russo. Pelo contrário. Da doença que o deixou acamado na adolescência até sua fissura por ídolos do rock, tudo já é bem conhecido do público. Ainda assim, toda essa história ganha volume quando projetada na sala escura. Mais ainda por conta das interpretações curiosas e engraçadas de Herbert Vianna (Edu Moraes) e Dinho Ouro Preto (Ibsen Perucci).
E, claro, tem as músicas. Trechos de letras famosas permeiam o texto, como se quisessem contar como nasceram tantos clássicos da música brasileira. E, mais uma vez é claro, que basta Renato puxar sua guitarra, baixo ou violão, para que a plateia cante junto cada sílaba. Isso por que, como band leader, Renato Russo foi ímpar, o que o fez merecer dois filmes no cinema ao mesmo tempo.