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Quando foi convidada pela Nívea para fazer um projeto em homenagem a Tom Jobim (1927 – 1994), Vanessa da Mata chegou a declarar que seriam alguns shows e pronto. Nada de disco ou turnê. Claro que não havia como isso se manter e logo ela rodou o Brasil apresentando seu novo disco, que traz 16 composições do Maestro Soberano. Produzido por Kassin, Vanessa da Mata canta Tom Jobim joga um molho indie sobre verdadeiras joias musicais, como Fotografia, Eu sei que vou te amar ou Estrada do sol. A banda que acompanha a cantora mato-grossense conta com nomes do quilate de Eumir Deodato e Alberto Continentino. Em alguns momento, como Caminhos cruzados, as intenções originais são preservadas. Em outros, como Este seu olhar, a brincadeira ganha ousadia. No meio termo, Só danço samba merece destaque.

É claro que o resultado divide opiniões, principalmente por se tratar de um compositor que já ganhou as vozes preciosas de Elis Regina, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Frank Sinatra. Esses e muitos outros já dedicaram álbuns inteiros ao cancioneiro do carioca. Logo, é difícil soar original cantando Tom Jobim. No caso de Vanessa, suas limitações vocais ficaram mais evidentes. A voz aguda, em muitos momentos, escorrega na desafinação (principalmente ao vivo). Pra completar, o show montado apenas com as canções do Tom também deixou alguns fãs frustrados. Sem se preocupar em ser simpática ou fazer concessões, alguns até se incomodaram com a resposta dada pela artista a quem pedia antigos sucessos, como Vermelho ou Case-se comigo. “Desculpa, mas é que eu só faço o que quero”, disse ela na lata quando esteve cantando no Cumbuco (dia 16 de agosto).

Detalhes à parte, Vanessa da Mata canta Tom Jobim está na praça e seus muitos fãs não param de exaltar o resultado. O disco tem sim bons momentos. Apesar do “deslize” no Ceará, ela tem simpatia e busca imprimir isso no disco. Com frescor, ela bota a voz pra fora e canta com leveza, fluidez e verdade. Além disso, o repertório é primoroso. Veja abaixo a entrevista cedida por Vanessa da Mata ao jornalista Eduardo Siqueira.

DISCOGRAFIA – Em seu site oficial, há uma frase dizendo o seguinte: “Quero mostrar o que a minha geração sente pelo Tom (…)” E o que você pretende mostrar?

Vanessa da Mata – Comprei meu primeiro disco do maestro, Urubu, aos 17 anos. Nasci no Mato Grosso e gritava para espantar os animais da floresta quando havia caçadores por perto e me impressionei, não só com a grandeza da música do disco, mas também com a visão sobre a natureza que Tom mostrava ali (Um urubu na capa mostra uma sabedoria, uma consciência da cadeia alimentar). Isso era uma compreensão do amor de forma grandiosa, que inclui o amor pelo planeta, pelas pequenas criaturas.  Outra coisa que me tocou muito foi o romantismo da obra de Tom, a forma como falava das mulheres, sem vulgaridade. A guerra gostosa da sedução era mais bonita, havia uma consciência de que aquela mulher é algo especial. Hoje poucos fazem música assim. Estou achando tudo muito chato, muito superficial.

Vanessa_da_Mata_canta_Tom_JobimDISCOGRAFIA – O que lhe motivou a apresentar um show só com músicas do Jobim?

Vanessa da Mata – O convite veio pela Nívea e eu fiquei muito feliz com isso, ser agraciada por um projeto como esse, nessa fase da minha vida, da minha carreira foi uma honra. Um convite como esse que eu acho que não é à toa. Sempre fui muito influencianda pelo trabalho dele de alguma forma. O fato do Tom Jobim ser o segundo compositor mais regravado da história, atras apenas dos Beatles, sempre me chamou muita atenção. Acho que este projeto pode abrir os olhos do mundo para o meu trabalho.

DISCOGRAFIA – Não faz muito tempo, Maria Rita fez uma turnê em tributo à sua mãe, Elis Regina. No caso tratava-se de uma homenagem de filha para mãe. Em relação à sua turnê, qual a relação entre você e Tom Jobim?

Vanessa da Mata – A Nívea me convidou logo depois do sucesso dessa turnê da Maria Rita cantando Elis  e eu fiquei muito feliz com isso.  Minha carreira foi trilhada de maneira solo e como compositora desde o começo. Nunca fiz parte de “turmas”.  Nesse momento da minha carreira ter um convite como esse, isso pra mim é muito especial. Um homem dessa grandiosidade como maestro, como compositor e como cantor – dessa representatividade tao grande –  para mim é uma honra muito forte. Tinha uma relação de aprendizado, carinho, muito respeito e admiração por Tom. De conexão e muito gosto pelas opiniões expressas em suas idéias e ideais pessoais e musicais.

DISCOGRAFIA – Quais são as suas músicas preferidas?

Vanessa da Mata – Todas! Para mim não existe uma mais bela. É uma obra inteira bonita, preciosa. A  escolha do repertório foi o mais difícil. Eu tinha selecionado 150 músicas no início do projeto. Quando Monique Gardenberg chegou com 60 selecionadas, foi um alívio. Aceitei as sugestões dela (todas as 60 musicas já estavam na minha lista de 60), e fui com Kassin trabalhar na escolha das vinte e poucas que entraram no show. Foi duro escolher. Fomos usando como critério os ritmos, temas, variedade para o roteiro, possibilidade de novos arranjos e o diálogo com os videos da Monique (que são projetados durante o show). A parceria entre Eumir e Kassin é incrível e isso pode ser visto no show. A banda deu um toque novo para o arranjo clássico e lindo do Eumir. Eu forcei para que isso acontecesse, senão, correríamos o risco de fazer o já feito. Estamos trazendo texturas, timbres e ritmos novos que se misturam aos clássicos e à Bossa Nova.

DISCOGRAFIA – Qual o principal desafio em interpretar canções de um dos maiores compositores brasileiros?

Vanessa da Mata – Tom tem uma maneira de compor que gosto muito. É primoroso e vai da extrema sofisticação à simplicidade. Não se perde no egocentrismo. Ele fala de amor, mistura natureza, harmonias sofisticadas e uma linguagem simples e direta de vocabulário que pode tocar o coração desde um milionário até o mais humilde. Isso para mim é ser popular de maneira positiva e acessível.

DISCOGRAFIA – O público já chegou a pedir que você cantasse suas próprias canções durante os shows?

Vanessa da Mata – O público mergulha no universo de Tom durante todo o show e ali ficamos do início ao fim. Reverenciando e cultuando esse grande mestre.

DISCOGRAFIA – Além da turnê “Viva Tom”, tem algum outro projeto? um novo disco, por exemplo?

Vanessa da Mata – Estamos completamente focados nessa turnê e na divulgação do CD que acabei de lançar pela Sony Music, Vanessa da Mata Canta Tom Jobim.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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