Foto: Rafael Motta

Foto: Rafael Motta

Apesar de comum, existe um desafio grande na hora de interpretar as canções imortais dos Beatles. A dificuldade está em encontrar um caminho original, uma vez que muita gente já fez isso. Vai de gigantes como Frank Sinatra (1915 – 1998) e Sarah Vaughan (1924 – 1990) até versões para o reggae e para bebês. Ainda assim, não são poucos os que querem mostrar sua leitura particular para o Fab Four. É o caso da Orquestra Ouro Preto, que apresenta hoje (9) em Fortaleza um concerto especial, só com canções do quarteto de Liverpool.

Interpretar Beatles é mais uma viagem que a Orquestra Ouro Preto propõe para seu público. Fundada há 13 anos, na cidade mineira embelezada por igrejas e muita história, a Orquestra sempre buscou unir o erudito e o popular, além de, principalmente, levar essa mistura para lugares que têm pouco contato com a música de câmara. Com o projeto “Orquestra nos Distritos”, por exemplo, eles costumam levar o som dos violinos e violas para formar plateia nos municípios próximos de Ouro Preto.

Rodrigo Toffolo

Rodrigo Toffolo

O concerto com canções dos Beatles, inclusive, também nasceu dessa ideia de desmistificar a música orquestrada. Em 2009, eles receberam o convite para encerrar o ano letivo da Universidade Federal de Ouro Preto. A sugestão de abordar Beatles partiu do reitor. “Acho que existe uma necessidade de que a música erudita permaneça num patamar. Isso é uma besteira. Você tem que flexibilizar a música erudita e disciplinar a popular”, sugere o maestro Rodrigo Toffolo, que veio ter mais contato com o som dos ingleses por conta do projeto.

De olho nessa proposta, Toffolo selecionou canções que abrangessem as muitas fases por onde os Beatles passaram. Vai do iê iê iê dos primeiros anos à fase mais experimental de Ruber soul (1965) ou do Sgt. Peppers (1967). Para reforçar os arranjos, escritos pelo violinista Mateus Freire, a orquestra vai contar no palco com uma banda formada por Rodrigo Garcia (guitarra), Gustavo Chuck (bateria), Maurício Ribeiro (baixo) e Rodrigo Torino (violão). “Procuramos uma identidade nossa na orquestra. O que a gente fez foi distribuir a melodia pela orquestra. Fica um show quase interativo. Você percebe a orquestra como protagonista, não como acompanhante”, explica o maestro.

Em 2012, o espetáculo da Orquestra Ouro Preto chegou à meca dos beatlemaníacos, Liverpool, para realizar a primeira apresentação de câmara dentro da International Beatle Week, evento exclusivamente dedicado ao som do quarteto. O sucesso do show, diante do um público mais exigente em termos de Beatles do mundo, animou os músicos a voltarem para o Reino Unido no próximo ano para registrarem o tributo em DVD. A ideia é que concerto aconteça em agosto.

Mas antes eles têm outra aventura para dar conta. Desenhado desde 2010, chega às lojas ainda este mês o registro ao vivo do show Valencianas, que marca o encontro da Orquestra com Alceu Valença. Elegante dentro de um fraque, o pernambucano empunhou seu violão ritmado para dar ares eruditos aos seus frevos, baladas e “forrocks”. “O Alceu conseguiu ser quase como um solista no show. E a experiência com os Beatles foi uma grande escola pras Valencianas”, avalia Rodrigo Toffolo.

Help-edManter a linha experimental entre o mundo erudito e popular tem se tornado uma espécie de filosofia entre os músicos da Orquestra Ouro Preto. E isso tem trazido resultados, como o Grammy Latino para o disco Latinidades, além de algumas turnês pelo exterior. Patrocinado pela Petrobrás, o grupo ainda desenvolve pesquisas em música latina, marchas fúnebres e na própria cultura mineira. “Estamos num país em que o oferecimento (de cultura) é muito pequeno. Por isso, qualquer concerto de orquestra é muito cheio, tem público. A facebook da Orquestra, quando começamos a mexer com Beatles e Alceu, passou de 800 para 8000 curtidas”, comenta Toffolo. É uma mostra de que o erudito também pode ser popular no Brasil.

Serviço:
Orquestra Ouro Preto apresenta The Beatles
Quando: hoje (9), às 20h30
Onde: Teatro Via Sul (Av. Washington Soares, 4335 (3° piso) – Água Fria)
Quanto: gratuito
Outras info.: 30528026

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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