AUREA_Soul Notes_Cvr_CréditosFoto_Mário Galiano

Na música, a máxima que diz que “o que vale é a intenção” não funciona. A vontade de desenvolver uma certa proposta, quando não é realizada, vira problema. É o que acontece no segundo disco da cantora portuguesa Aurea. A edição nacional de Soul Notes, lançada pela Sony Music, é de encher os olhos e despertar alguma curiosidade. O pacote é pesado e vem com CD e DVD, que, juntos, arregimentam algumas dezenas de faixas. O encarte também é farto, com letras e algumas fotos que vão da sensualidade à vergonha alheia. Tal qual dito no título, a ideia da cantora de 26 anos é fazer um disco de soul music. A voz forte, de boa extensão, ajuda bastante nesse assunto. O repertório também traz algumas boas faixas. Mas a dúvida entre se deve soar original ou mera cópia da Amy Winehouse embola o meio de campo e compromete o resultado. Pra piorar, os arranjos sem graça deixam tudo morno, apesar, como disse, dos bons momentos.

Essa dúvida entre fazer sucesso comercial ou um bom disco (pra muitos, parece, isso não pode ser a mesma coisa) fica exposta logo na capa, onde a cantora exibe suas (maravilhosas) pernas tatuadas. A breguice impera e é totalmente desnecessária. Sobra a música pra conquistar o público. E o disco começa bem, com um blues à moda antiga, que seria melhor ainda se Aurea se preocupasse menos em gritar em mais em sentir. A música que tem puxado o Soul Notes nas rádios, Scratch my back, é bem bonitinha e ganha o ouvinte logo no começo, com seu pianinho martelado. Don’t you dare to touch her também é bacana, mas parece uma cópia de Shoop shoop song. Goodbye song também cumpre seu papel de baladinha e, fora do contexto do disco, pode surpreender o ouvinte. If you’re good to me é outra que merece atenção, principalmente pelo arranjo dividido em dois momentos, um mais sinuoso e outro puxado pro gospel.

No entanto Nothing left to say parece com qualquer outra balada rock, de qualquer cantora gritalhona internacional, que toca em qualquer rádio. O country rock Do what’s best for you poderia estar no disco da Shania Twain, o que nem é tão mal assim. Já Star over, com introdução ao violão, é uma tentativa forçada de parecer intimista que sai pela culatra. Mas Okay alright é um reggae de fazer vergonha a Bob Marley, de tão insosso. Pra salvar, Just like over é daquelas pra arrasar corações apaixonados. Em todas, boas ou ruins, os arranjos pecam pela falta de brilho e, talvez, seja isso que impede Soul notes de decolar. É fato que, para os menos críticos, à medida que se vai ouvindo, vai-se descobrindo coisas interessantes em Aurea. Mas nada que vá fazer dela um grande sucesso da sua discoteca.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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