manoblues 2 - foto de Waslter LouzanNo final da década de 1990, não se sabe ao certo se 1997 ou 1998, o guitarrista Andreas Kisser, reconhecido pelo trabalho com o Sepultura, foi apresentado a Vasco Faé, multi-instrumentista com uma longa história de militância na cena blues brasileira, enquanto visitava uma rádio comunitária em Sã Paulo. Vasco, que já integrou o Blues Etílicos e hoje faz parte da Irmandade do Blues, já conhecia o som pesado do metaleiro e o convidou para fazer uma jam session (encontro improvisado de músicos). A empatia aconteceu na hora e, desde então, eles vêm se encontrando, tocando e produzindo coisas juntos, seja ao vivo ou em estúdio.

Fortaleza já conferiu o resultado desse encontro por duas vezes, quando eles integraram a programação do Oi Blues By Night. De volta para uma terceira apresentação, eles tocam esta noite no Órbita Bar. No repertório, a dupla inclui os grandes clássicos de bandas que tiveram forte influência do blues, como Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple e Rolling Stones. Há espaço também para um cover azeitado de Superstition, sucesso de Stevie Wonder. Quem abre a noite é paulista, radicado no Ceará, Felipe Cazaux, que apresenta seu terceiro disco e mais recente disco Never go down.

De Buenos Aires, onde faz show com a banda De La Tierra, Andreas Kisser conta, por email, que foram os guitarristas das bandas citadas acima que o instigaram a aprender a tocar guitarra. “Depois fui conhecer o Jimi Hendrix, que toca um blues pesado, original e muito criativo. Outra grande influência foi o Cream, com o (Eric) Clapton tocando com um bom gosto incrível”, comenta acrescentando que, quando morou nos EUA, teve a chance de assistir shows de B.B. King, Buddy Guy, Bo Diddley, Jeff Beck e Stevie Ray Vaughan, este último, um ano antes de morrer num acidente de helicóptero em 1990.

Já acostumado a experimentar fusões de estilos no Sepultura, Kisser comenta que sempre é bem recebido pelo público do blues, inclusive no Ceará. “Eu fiquei surpreso com o conhecimento e o amor que o cearense tem pelo blues. Todos os shows foram espetaculares. Principalmente o que fizemos ao ar livre, num teatro maravilhoso completamente lotado. Foi uma  noite memorável”, elogia se referindo ao show que fez com Vasco Faé no anfiteatro do Dragão do Mar em agosto de 2007.

Vasco Faé também comemora a boa recepção do blues no Nordeste e acrescenta que isso faz parte de alguns ciclos que o estilo atravessa no Brasil. “O blues é meio cigano. Tem a fase Fortaleza e ele vira sensação. Passa um ano e começa a estourar no Sul. Depois dá uma caída e acontece em outro canto”. Para ele, o grande porto seguro continua sendo São Paulo, onde o público se mantém fiel há muitas décadas. “Aqui não tem festival como em Guaramiranga, mas tem show no ano inteiro. Hoje não tem bar de blues em São Paulo, mas tem coisas que rolam aqui e ali”, explica.

Para se manter nessa cena, o jeito é não se fechar num único projeto. No caso de Andreas Kisser, além de viajar com os novos discos do Sepultura (The mediator between head and hands must be the heart) e do De La Tierra (De La Tierra), ele convida uma turma de amigos para se juntar no projeto Brasil Rock Stars. Já Faé, divide seu tempo entre a Irmandade do Blues (temporariamente sem agenda) e o show Manoblues, em que dá conta sozinho de cantar e tocar gaita, guitarra, bumbo e caixa de bateria. No meio de tantos projetos, eles aproveitam as horas de folga para encontrar os amigos, organizar uma jam e deixar o som rolar mais uma vez.

Serviço:
Quando: hoje (24), às 21h
Onde: Órbita Bar (R. Dragão do Mar, 207 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 30 (antecipado) e R$ 35 (na hora). À venda no Órbita
Outras info.: 3453.1421

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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