* Matéria publicada na revista O POVO Cenário Nº5
Por sorte, para Rita e Erasmo, todas essas transformações acabaram sendo canalizadas para o trabalho e virando discos os antológicos, que acabam de receber reedição na coleção Três Tons, da gravadora Universal. Tal como subentendido no título, cada caixinha traz três CDs, que, no caso dos dois gigantes da música brasileira, contam uma história curiosa nas entrelinhas.
O jeito irônico e libertário dos Mutantes permeia todas as 11 faixas de Build up, apesar do claro desejo de se distanciar do original. O mesmo não pode ser dito de Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas (1972). Apesar de ser creditado como o segundo solo de Rita, esse é um disco 100% Mutantes. O fato é que eles estavam empolgados com a inauguração novo Estúdio Eldorado e resolveram dar uma chegada pra fazer um som na moderníssima mesa de 16 canais. A brincadeira ficou tão boa que eles quiseram lança-la em disco.
Atravessando um longo inferno astral e buscando um novo rumo artístico, Rita Lee lançou seu, de fato, primeiro trabalho solo em 1974. Atrás do porto tem uma cidade inaugura a parceria da paulistana com a banda Tutti Frutti, que contava com Lúcia Turnbull, Luis Carlini e Lee Marcucci. Mesmo andando pra frente, ela não esconde a mágoa dos antigos companheiros em músicas como Ando jururu ou Mamãe natureza. Ainda assim foram quatro grandes discos ao lado dos novos colegas, até que Roberto de Carvalho entrou na vida da roqueira e tudo mudou novamente.
Tremendão
Agora trabalhando na Philips, Erasmo deu início à década com o disco que até hoje é considerado seu maior clássico: Carlos, Erasmo (1971). Escudado por parte dos Mutantes, o tijucano resolveu abraçar o ideário hippie reunindo composições próprias e presentes de amigos para fazer algo que divergia completamente do clima Jovem guarda. Tem samba-rock (Agora ninguém chora mais), hino bicho grilo (Gente aberta) e crítica às convenções sociais (Não te quero santa).
Mas, como o que é bom dura pouco, Erasmo Carlos viu que aquele mundo hippie chegara ao fim e que estava na hora de acordar para levar os filhos ao colégio. Antes, ele fez A banda dos contentes (1976), que contou com os vocais do efêmero trio Karma. Mais uma vez, o encarte trazia um desenho onde vários “erasmos” brigam a esmo. Eram os conflitos de uma época, que também apareciam em Queremos saber, Análise descontraída e Filho único. Mas logo os anos 1980 bateriam à porta do músico que, assim como Rita Lee, pode aproveitar curtir o sucesso de uma nova época de mais tranquilidade.