São 14 faixas em que, mesmo as que não são sambas no sentido exato do termo, trazem algo da “cadência e do compasso brasileiro”. É o caso de Cheia de graça, um balanço black de sincopado leve. Tem ainda o samba baiano Moça bonita, contribuição da esposa Jane Reis, e a melancólica Dor de Carnaval, com seus ares bossa nova. Nesta última, os vocais voláteis de Céu ajudam a imprimir mais beleza (e tristeza) na história da escola que perdeu no último desfile. Com cara de churrasco com cerveja, Vou com você ganhou um belo arranjo de gafieira escrito por Humberto Araújo (co-produtor do disco com Líber Gadelha). Embora seja um fox, o tema de Caindo de bêbado também sugere um samba e é uma das mais belas faixas do disco.
Do coração de um homem bom é uma canção emocionada, que ganha trágicas camas de cordas, violões e piano de cauda. Os versos de Ricardo Augusto (“A tarde vem num manto frio, traz o negror da solidão”) poderiam muito bem estar no repertório de gigantes como Nelson Gonçalves ou Sílvio Caldas. Já o curioso reggae Papai do céu ajuda não deve ser levado tão a sério com sua cara de tiração de sarro. E, para finalizar, Amusicadonicholas (assim mesmo, tudo junto) é uma inédita peça instrumental na carreira de Melodia. Feita em homenagem ao neto do compositor, a levada com cara de Henry Mancini encerra Zerima com um afago no ouvinte, mostrando que o Negro Gato, aos 63 anos, segue maduro e necessário para a música brasileira.